Maria Schneider, figura exaltada e condenada pela lenda de O Último Tango em Paris (1972), sucumbiu a um cancro — a actriz francesa faleceu aos 58 anos.
Aos 19 anos escolhida por Bernardo Bertolucci para contracenar com Marlon Brando em O Último Tango em Paris [trailer em baixo], entrou na história do cinema pela porta do "escândalo" e, sobretudo, da especulação gratuita dos meios de "informação". A "cena da manteiga", citada à exaustão — veja-se o comportamento automático (?) do nosso querido Google: escreve-se o nome da actriz e, entre as opções, aparece "maria schneider butter"... — ficou para muitos como emblema de um filme cuja fulgurante capacidade de apreender o desencantado air du temps ainda hoje parece ignorada por muitos espectadores.
Filha da modelo Marie-Christine Schneider e do actor Daniel Gélin (1921-2002), que nunca a reconheceu, teve uma vida marcada por muitas atribulações, desde a dependência de drogas até à ostracização a que a indústria e alguma imprensa a votaram depois de ter assumido a sua bissexualidade. Uma consequência muito directa da "imagem" que dela foi produzida é, afinal, o esquecimento da sua própria filmografia. Desde logo porque Schneider está presente numa das obras-primas que mais subtilmente reflectem o mal de vivre da década de 70: Profissão: Repórter / The Passenger (1975), onde contracena com Jack Nicholson sob a direcção de Michelangelo Antonioni. Depois, porque entre os seus melhores momentos, se incluem trabalhos com Daniel Schmid (Violanta, 1977), Philippe Garrel (Voyage au Jardin des Morts, 1978), Daniel Duval (Crónica da Mais Velha Profissão do Mundo, 1979), Werner Schroeter (Weisse Reise, 1980), Jacques Rivette (Merry-Go-Round [foto em cima], 1981), Marco Bellocchio (A Condenação, 1991) e Cyril Collard (Noites Bravas, 1992). Foi sempre uma actriz inclassificável, por um lado fugindo aos desígnios da "fama", por outro lado, sob o olhar dos cineastas mais rigorosos, aceitando que a câmara se apropriasse das suas próprias vulnerabilidades. Cliente (2008), de Josiane Balasko, foi o seu derradeiro filme.
>>> Notícia do óbito e texto de Philippe Azoury no jornal Le Monde.
>>> Maria Schneider entrevistada, em 1975, por Roger Ebert.