Apetece dizer que nunca vimos assim a obra-prima de Martin Scorsese. E, objectivamente, assim é: a cópia de Taxi Driver (1976) passada na Berlinale foi uma estreia absoluta, já que resulta de um recentíssimo processo de restauro, em digital "4K", coordenado por Grover Crisp (Sony Pictures) e supervisionado pelo próprio Scorsese e pelo director de fotografia do filme, Michael Chapman. A projecção, realizada no imponente Friedrichstadt Palast, foi apresentada pelo próprio Crisp, acompanhado por Paul Schrader, argumentista de Taxi Driver e futuro realizador (American Gigolo, Cat People, Mishima, etc.). Como lembrou Schrader, os filmes que resistem ao tempo e vão persistindo no imaginário de sucessivas gerações são aqueles que nasceram a partir dos gestos mais genuínos dos respectivos criadores. Ninguém sabe prever os ciclos nem as singulares medidas do tempo cinematográfico: não sem alguma saborosa ironia, Schrader lembrou que, afinal, estávamos ali 35 anos depois do lançamento do filme, do mesmo modo que tinham passado 35 anos entre o aparecimento de Citizen Kane/O Mundo a Seus Pés e a estreia de Taxi Driver.