sexta-feira, janeiro 14, 2011

Reedições
Marc and The Mambas,
Torment and Toreros


Marc and The Mambas
"Torment and Toreros"

Genepool Records

5 / 5


Há quem defenda que este será o menos recomendável dos álbuns de Marc Almond para quem, pela primeira vez, quiser tomar contacto com a sua música. Todavia, em Torment em Toreros encontramos uma das obras-primas maiores da sua discografia, num manifesto de grande fôlego que deixou claro que o seu caminho na música não seria necessariamente feito de sequelas de Tainted Love, o single dos Soft Cell que, em 1981, dele havia feito uma inesperada (e até mesmo improvável) estrela pop com projecção global. Mas contemos a história desde o início. Surpreendido pelo sucesso de Tainted Love (e do álbum Non-Stop Erotic Cabaret, que se seguiu), Marc Almond possivelmente sentiu que através do patamar entretanto alcançado pelos Soft Cell não poderia projectar algumas das visões que pretendia explorar na música. Na verdade, e com o tempo, os dois álbuns tardios do duo com Dave Ball acabariam por reflectir um evidente afastamento das linguagens mais nítidas da pop electrónica que haviam talhado nesse histórico disco de 1981. Mas em 1982, e em tempo de curta pausa nos Soft Cell, Almond criou o projecto paralelo Marc And The Mambas através do qual editaria dois álbuns entre 1982 e 83 nos quais definiu rumos que determinariam a essência do que, a partir de 1984, seria a sua obra a solo. Torment and Toreros, o segundo álbum de Marc and The Mambas é uma obra atípica da música do seu tempo. Convocando referências várias, do vaudeville, cultura latina, chanson, piano e arranjos para cordas, juntando ainda outros espaços distantes do centro dos universos da pop de então, sempre som uma atmosfera sombria, o disco tacteia caminhos novos num alinhamento longo (o disco era duplo logo na sua versão original em vinil) que convoca ainda a música de Jacques Brel (The Bulls) ou Peter Hammil (Vision). É um álbum de emoções à flor da pele, versátil nas formas e desafiante na versatilidade de ideias, revelando em Marc Almond uma voz criativa com uma visão que transcendia os tons da pop mais luminosa de muitas das canções dos Soft Cell. Contando com colaboradores como Matt Johnsson (dos The The) ou Annie Hogan (que seria importante parceira na sua obra a solo), Torment and Toreros é um disco tenso e intenso, que se aprende a ouvir (e que Antony Hegarty citou já como um dos títulos que mais o influenciaram). E que mostra que nem toda a pop dos oitentas se arruma nas caixas mais simplistas da taxonomia musical.