sexta-feira, janeiro 14, 2011

Inventar o século XX


Momento maior desta passagem da Philarmonia Orchestra por Lisboa, o Coliseu dos Recreios mergulhou perto de cem anos no tempo para reencontrar obras que ajudaram a definir o que seria, afinal, a música do século XX. Motor fulcral de muitos dos acontecimentos que se lhe seguiriam, A Sagração da Primavera, de Igor Stravinsky, foi o terceiro bailado que o compositor viu ganhar forma pelos Ballets Russes entre 1910 e 1913, numa sequência que não só o colocaria na linha da frente dos acontecimentos musicais do seu tempo como influenciaria inúmeros outros seus contemporâneos entre os quais Bartók, de quem o concerto apresentou duas obras, uma delas, O Mandarim Maravilhoso, de 1926. Entre ambas as obras correm sinais de busca de novas formas por caminhos que não os que o romantismo antes tomara, a pulsão do ritmo e a exploração de outras potencialidades do som dos instrumentos ganhando um evidente protagonismo. Esa-Pekka Salonen levou a orquestra a respirar com fulgor estes desafios, a exuberância dos ritmos e o colorido da orquestração ganhando forma em interpretações expressivas de ambas as obras. O programa incluiu ainda a Cantata Profana de Bartók (de 1930), que chamou ainda a palco os cantores Attila Fekete (tenor) e Michele Kalmandi (barítono), revelando uma vez mais a grande forma do Coro Gulbenkian. Uma noite que não deixou dúvidas sobre porque daquela música partiria um século feito de acontecimentos desafiantes.