A partir de 1 de Janeiro de 2011, Oprah Winfrey passa a ser também o nome de um canal de televisão — este texto foi publicado no Diário de Notícias (31 de Dezembro), com o título 'A pedagogia de Oprah'.
Criado em 1986, The Oprah Winfrey Show (transmitido em Portugal pela SIC Mulher) tem o seu fim anunciado para Setembro de 2011. Terminará, assim, um dos mais duradouros talk-shows da televisão americana, com quase cinco mil edições. Mas não é um final de abandono ou esgotamento, muito menos de reforma. Na verdade, Oprah vai liderar um novo e ambicioso projecto de televisão, designado pela sigla OWN (Oprah Winfrey Network): a sua abertura oficial está marcada para amanhã, dia 1 de Janeiro, quando for meio-dia na costa ocidental dos EUA.
Resultante de uma aliança entre a Harpo Productions (de Oprah) e a Discovery Communications (proprietária dos canais Discovery), a OWN apresenta-se como muito mais do que um mero desenvolvimento de The Oprah Winfrey Show: será um canal a tempo inteiro [video: spot promocional] que, para além da presença emblemática de Oprah, vai contar com uma programação extremamente ambiciosa, em grande parte alicerçada em personalidades convidadas, incluindo Ryan O’Neal e a sua filha, Tatum, a comediante Rosie O’Donnell, e Sarah Ferguson, duquesa de York. Na edição com data de Janeiro da sua revista, O – The Oprah Magazine, Oprah apresenta as linhas gerais do novo canal, ao mesmo tempo que refere a sua crescente resistência à "televisão do lixo” (trash TV) como uma motivação central para a espectacular reconversão que se propõe protagonizar.
Podemos, como é óbvio, resistir a alguns pressupostos do estilo de Oprah. Podemos também discutir o modo como, por vezes, os efeitos de “personalização” do seu programa simplificam alguns dos temas abordados. Em todo o caso, a sua pedagogia humanista confere-lhe uma energia simbólica que importa valorizar. Ao referir que, nos últimos anos, sentiu com crescente frequência que “a televisão perdeu a cabeça”, Oprah coloca-se na posição de quem aceita lidar com as leis e, sobretudo, as responsabilidades de estabelecer uma relação com o espectador. E não será preciso grande poder de adivinhação para reconhecer, desde já, que a OWN constituirá um salutar desafio a muitas formas de fazer e pensar a televisão do futuro.