domingo, janeiro 09, 2011

Mozart, segundo David Fray


Passou recentemente por Lisboa, para um recital na Fundação Guklbenkian. E agora David Fray edita num mesmo disco gravações (juntamente com a Philarmonia Orchestra, dirigida por Jaap Van Zweeden) dos concertos para piano e orquestra números 22 e 25, duas obras tardias de Mozart.

Aos 29 anos, o pianista francês David Fray é um franco talento em tempo de afirmação global. Pelo seu currículo já moram prémios, aplausos aos vários discos editados e um documentário no ARTE. Como ideia de um projecto de vida chegou já a afirmar, numa entrevista, que será feliz se conseguir tocar todas as obras de Bach, Schubert, Mozart, Haydn, Brahms e Schumann... O novo disco que edita através da Virgin Classics é assim mais uma contribuição para o registo da concretização desse sonho, apresentando dois concertos “tardios” de Mozart, um compositor que, diz, durante algum tempo o chegou a enfrentar com “cautela”. Era, descreve, “muito simples, muito complicado”... Na verdade, e como continua a reflectir no texto que assina no booklet do seu novo disco, “em, Mozart nada é sempre tão simples como parece”, sublinhando que a facilidade com que concebia os seus trabalhos “mascara uma evolução mais complexa que a que possa ser revelada por um qualquer documento”. Ao escolher dois concertos tardios de Mozart (o nº 22 data de 1785, o Nº 25 do ano seguinte), David Fray reflecte sobre a forma como, nessa etapa da sua vida, o compositor evoluiu no sentido de se afastar progressivamente das convenções da época, “encontrando uma profundidade de campo” e um “grau adicional de perspectiva” que estas duas obras traduzem. Para o fim da vida, continua o pianista, “Mozart estava menos interessado na acção”. E, falando em concreto dos concretos para piano, explica que “não temos uma alternância de momentos de calma e de drama”. Antes, “cada um destes elementos está sempre latente no outro sem nunca perder o seu poder expressivo”. Uma reflexão que é ponto de partida para uma abordagem do intérprete. E, para nós, uma primeira pista a ter em conta enquanto ouvintes.