No final de cada ano, os tradicionais balanços jornalísticos arrastam, muitas vezes, uma simbologia simplista — ou porque tais balanços se limitam a reproduzir uma dicotomia pueril (os "bons" e os "maus"), ou então porque se favorece uma percepção redutora das próprias escolhas que são propostas.
Assim, por exemplo, a consagração de Mark Zuckerberg como "pessoa do ano", para a revista Time. Por um lado, muitos quiseram ver nisso o reconhecimento do criador do Facebook como uma espécie de guru intocável da moderna "comunicação"; por outro lado, quase nada se disse (ou citou) do extraordinário artigo, assinado por Lev Grossman, que fundamenta a escolha da revista. Acima de tudo, importa referir que o artigo sabe conciliar o espanto e admiração pelas proezas de Zuckerberg com a pedagógica interrogação do endeusamento pueril da "informação" (data), lembrando: "(...) nós não somos informação e as relações [humanas] não podem ser reduzidas à troca de informação ou à tomada de decisões binárias entre gostar e não gostar, ser amigo ou não ser amigo." Tudo isto com uma evocação irónica de E. M. Forster [foto] de quem, afinal, Zuckerberg nunca ouviu falar.
Citação:
>>> For all its industrial efficiency and scalability, its transhemispheric reach and its grand civil integrity, Facebook is still a painfully blunt instrument for doing the delicate work of transmitting human relationships. It's an excellent utility for sending and receiving data, but we are not data, and relationships cannot be reduced to the exchange of information or making binary decisions between liking and not liking, friending and unfriending. It's as if Zuckerberg read E.M. Forster's famous rallying cry in Howards End, "Only connect", and took it literally: only connect, do nothing else. (There's no chance that this actually happened. I asked Zuckerberg if he'd read Forster and got the spider stare. He'd never heard of him.) <<<