segunda-feira, janeiro 17, 2011

Globos de Ouro — e para além do glamour?


Um dos aspectos mais desconcertantes dos Globos de Ouro da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (HFPA) é a sua crescente incapacidade para, em termos globais, sustentar um discurso minimamente consistente sobre a especificidade do cinema. Não que um acontecimento deste género seja alheio aos aspectos mais mundanos do glamour — foi, aliás, a dimensão mais consistente da sua 68ª edição e, não por acaso, surge com o devido destaque no balanço fotográfico da revista Life [foto de Carrie Underwood por Jason Merritt/Getty Images]. Seja como for, há qualquer coisa de necessariamente redutor quando — independentemente dos prémios atribuídos —, a cerimónia tende a ser uma mera acumulação de discursos de agradecimento, debitando listas mais ou menos longas de personalidades. Até mesmo Robert De Niro, agraciado com o prestigioso Prémio Cecil B. De Mille, optou por uma intervenção sarcástica, sugestiva e bem humorada, mas que, na prática, dissipou a nobreza da herança clássica ligada ao nome que a própria distinção envolve. Entre os que assumiram de forma mais séria a sua participação, importa destacar Chris Colfer (Glee) — melhor actor secundário numa série televisiva —, responsável por um curto, mas notável, discurso de agradecimento [video em baixo].
Sintomaticamente, o saldo da cerimónia está a ser calculado, sobretudo, em função das ondas de choque geradas por algumas das intervenções do apresentador, Ricky Gervais, a primeira das quais logo a abrir: "Vai ser uma noite de festa e muita bebida — ou, como diria Charlie Sheen, pequeno-almoço." Em boa verdade, perversamente, tudo isto decorre de um efeito de contaminação pelos valores correntes do imaginário dos "famosos" — esperemos que a cerimónia dos Oscars, marcada para 27 de Fevereiro, saiba, pelo menos, escapar ao simplismo destas atribulações.