Há palavras que transportam uma avalancha de sentidos. Biutiful, por exemplo, que serve de título ao mais recente filme do mexicano Alejandro González Iñárritu. Dela se desprende a ironia infantil (aliás, justificada por uma cena do filme) que, mais do que nos remeter para o inglês beautiful, nos instala numa espécie de linguagem universal que todos falamos e a ninguém pertence. Ora, justamente, Biutiful é um filme sobre a pertença: quem sou? Que lugar é este onde arrisco dizer eu?
A personagem interpretada por Javier Bardem surge, assim, como símbolo incauto da vida urbana, de uma só vez gerado e anulado pela imensa metrópole onde o encontramos à deriva. Podemos considerar que, noutros momentos (penso, por exemplo, em Babel, 2006), Iñárritu terá gerido melhor esse equilíbrio instável entre a crueza realista e o apelo simbólico. Em todo o caso, Biutiful é um filme sobre um drama muito contemporâneo: a dificuldade de traçarmos um mapa, geográfico e afectivo, da nossa própria identidade. Em boa verdade, a personagem de Bardem somos todos nós. Isto é, ninguém.