Nasceu em São Petesburgo mas é em Liverpool que o maestro russo Vasily Petrenko tem vindo a construir uma das mais entusiasmantes leituras da obra sinfónica de Shostakovich. A “sua” Sinfonia Nº 8 foi recentemente editada pela Naxos.
Nomeado para a Orquestra de Liverpool em 2006, Vasily Petrenko tem sido uma das grandes forças no seu processo de renascimento (local e internacional). Já com uma discografia interessante, tem vindo a gravar, aos poucos, a obra sinfónica de Shostakovich (na imagem) com uma orquestra que, entretanto se tem afirmado como um dos principais pólos actuais de atenção para com a música desse grande compositor russo do século XX. Estreada em 1943, na sequência da histórica Sinfonia nº 7 (que reflectia a história da resistência de Leninegrado ao cerco alemão, representando assim uma afirmação de confiança na vitória), a Sinfonia Nº 8 respira uma pulsão trágica que lhe valeu, na estreia, um acolhimento completamente diferente. E, como recorda o texto do booklet desta edição, até os mais firmes admiradores do compositor terão comentado que uma música tão fatalista estaria “longe de ser uma contribuição positiva para o esforço de guerra”. A sinfonia chegou a estar integrada numa lista de obras proibidas pelo poder russo a partir de finais dos anos 40, sendo reabilitada apenas em meados dos anos 50. Não é talvez das mais presentes nos repertórios de concerto entre as sinfonias de Shostakovich, mas é uma das suas mais espantosas composições, o tom trágico do longo adagio que abre a obra revelando uma música de uma carga emocional invulgar que Petrenko aborda de forma espantosa nesta gravação, encontrando um tom certo na abordagem quer dos instantes de intensidade maior ou nos episódios em que a melancolia abraça a orquestra. Mais uma belíssima contribuição deste maestro e da Orquestra de Livepool para com a constante (re)descoberta da obra sinfónica de Shostakovich.