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Há dias, a propósito do WikiLeaks, o embaixador José Cutileiro foi confrontado com a seguinte pergunta: "Considera mais importante os Estados terem direito a manter os seus segredos, ou o mundo ter direito a conhecer esses segredos?" Considerando a pergunta "demagógica", apresentou um ponto de vista que vale a pena conhecer, sublinhando a necessidade de ter em conta que "os Estados não são todos iguais" (Antena 1 - Visão Global). Numa argumentação exemplar — porque exemplarmente resistente aos lugares-comuns libertários do nosso universo mediático —, Cutileiro sublinhou uma verdade incómoda que (quase) ninguém quer pensar: "A transparência não é uma virtude, mas uma estratégia de comunicação".
A estratégia inerente ao WikiLeaks, para mais com os seus muitos "espelhos", exponencia uma componente endémica da nossa paisagem informativa & informática: a replicação incessante, potencialmente infinita, inisinua-se como modelo de legitimação colectiva e, no limite, como teste incontestável de uma verdade absoluta e compulsiva.
Encontramos, assim, uma ilusão cognitiva, típica desta idade de twitterização da comunicação humana: quanto mais repetido, mais verdadeiro... Na prática, triunfa assim toda uma nova cultura da "comunicação" ligada aos valores da personalização consumista, menosprezando a irredutibilidade humana do sujeito — a ideologia da transparência é "des-humana", literalmente exterior à complexidade do factor humano.
Encontramos, assim, uma ilusão cognitiva, típica desta idade de twitterização da comunicação humana: quanto mais repetido, mais verdadeiro... Na prática, triunfa assim toda uma nova cultura da "comunicação" ligada aos valores da personalização consumista, menosprezando a irredutibilidade humana do sujeito — a ideologia da transparência é "des-humana", literalmente exterior à complexidade do factor humano.