terça-feira, dezembro 21, 2010

Os melhores discos de 2010

Iniciamos hoje a publicação das listas com os melhores discos, filmes e livros do ano. Começamos com a música.

N.G.:


POP/ROCK: Como vem sendo hábito por aqui, da minha parte vai um três em três. Sendo que, no caso da produção pop(ular) internacional, este ano um top 30 vinha mesmo a calhar, tantos que foram os títulos que ficaram inscritos na banda sonora de um ano cheio de bons discos. No primeiro lugar mora um disco que contraria as lógicas da gratificação imediata do presente e que assenta numa lógica de complexidade que requer uma disponibilidade para a escuta. Desde Illinois acompanhámos em Sufjan Stevens uma série de ensaios que esboçavam uma demanda que conflui agora em The Age of Adz, uma visão acima dos géneros e das formas onde, contudo, não se perde o norte de uma ideia de canção. O ano acolheu a confirmação de nomes como os Vampire Weekend, MGMT ou Beach House. Trouxe as revelações de Perfume Genius, James Blake, Broken Bells, John Grant, Twin Shadow, Darkstar ou Janelle Monáe. E grandes novos discos de nomes como os dos Deerhunter, M.I.A., Caribou, Kanye West, Duran Duran, Robyn ou LCD Soundsystem. Bela banda sonora, a de 2010. Esta não é uma lista de álbuns, daí a inclusão de James Blake.

1. Sufjan Stevens “The Age Of Adz”
2. Vampire Weekend “Contra”
3. Perfume Genius “Learning”
4. Broken Bells “Beach House”
5. Beach House “Teen Dream”
6. James Blake “Klavierwerke”
7. MGMT “Congratulations”
8. Deerhunter “Halcyion Digest”
9. John Grant “Queen Of Denmark”
10. M.I.A. “Maya”


MÚSICA PORTUGUESA: Não foi um ano de dieta. Mas não foi também desta que voltamos a ter um ano de barriga cheia na produção musical por estes lados. B Fachada foi uma vez mais a figura do ano, do contraste entre a urgência lo-fi do EP de Verão e um inesperado encontro com uma nova atenção pelo detalhe no álbum que lançou há poucos dias surgindo nova confirmação de que é a figura mais interessante do actual panorama musical pop(ular) português. 2010 foi também o ano do regresso (em forma) dos Pop Dell’Arte, de uma espantosa experiência de diálogos entre Carlos do Carmo e Bernardo Sassetti. Nas estreias o destaque para os Verão Azul e Orelha Negra. Entre as promessas para 2011 os Capitães da Areia. A estes juntando-se novos sinais de solidez nas carreiras de nomes como os Mão Morta ou Tiago Guillul. Não foi nada mau. Mas é pouco...

1. B Fachada “B Fachada é Pra Meninos”
2. Pop Dell’Arte “Contra Mundum”
3. Carlos do Carmo e Bernardo Sassetti “Carlos do Carmo + Bernardo Sassetti”
4. Verão Azul “Verão Azul EP”
5. B Fachada “Há Festa na Moradia”
6. Mão Morda “Pesadelo de Peluche”
7. Tiago Guillul “V”
8. Orelha Negra “Orelha Negra”
9. Ride “Psychedelic Sound Waves”
10. Noiserv “A Day In The Life Of The Days”


CLÁSSICA: O ano Mahler ditou uma sucessão incrível de edições, de importantes caixas antológicas (quer a da DG ou a da EMI são peças de referencia) a lançamentos de novas gravações, entre as quais uma que assinala a conclusão de um ciclo que Pierre Boulez vinha a gravar para a editora. Mas 2010 foi sobretudo um ano atento ao presente, uma multidão de compositores, uns mais novos, outros veteranos, dando sinais de vitalidade daquilo a que podemos já chamar a música do século XXI. Nomes como os de Thomas Adès ou Osvaldo Golijov e revelações mais recentes como as de Nico Muhly ou Eric Whitacre são forças vivas de um espaço que procura novos caminhos depois das experiências na atonalidade do século passado. Esta lista está longe de ser coisa canónica, aceitando a “provocação” de juntar leituras electrónicas de Kurtag e ainda uma ópera criada por dois músicos com vida feita em terrenos... pop. Afinal, é entre vários mundos que corre hoje a vida de muitos dos compositores, maestros, orquestras e instrumentistas do presente. Ainda alguém acredita em fronteiras na música? Caso diga que sim, pode ter a certeza que essa não é já uma ideia sustentável no século XXI.

1. Adès: Simon Rattle “Tevot”
2. Lászlo Hortobágyi, Gyorgy Kurtág JR e Miklós Lengyelfi “Kurtagonals”
3. Sibelius: Pietarti Inkinen “Symphonies 1 & 3”
4. Glass: Denns Russel Davies “Symphony Nº 7 – Toltec”
5. Barber: Marin Alsop “Complete Orchestral Works”
6. Muhly “I Drink The Air Before Me”
7. The Knife “Tomorrow, In A Year”
8. Golijov: Guinard “La Pasion Según San Marcos”
9. Corrigliano: Faletta “Red Violin Violin Concerto”
10. Mahler: Boulez “Des Knaben Wunderhorn / Symphony Nº 10”

J.L.:


Onde está a música na cultura dominante — entenda-se, televisiva? Em muitos aspectos, não está, não se ouve, não se dá a ouvir, sobrevivendo muitas vezes encurralada nos mesmos horários (noctívagos) em que são colocados os filmes. É por isso, creio, que haveria um balanço a fazer daquilo que não nos é dado ouvir. Não seria um balanço de discos ou canções, mas um inventário dos valores (ou da falta deles) com que essa mesma cultura dominante tritura quase tudo o que não encaixe na rotina de "debates & concursos & telenovelas".

1. Trent Reznor e Atticus Ross, "The Social Network"
2. Anne Sofie von Otter e Brad Mehldau, "Love Songs"
3. Bob Dylan, "The Bootleg Series, Vol. 9"
4. Bruce Springsteen, "The Promise"
5. Madonna, "Sticky & Sweet Tour"
6. Philip Selway, "Familial"
7. Antony & the Johnsons, "Swanlights"
8. Eminem, "Recovery"
9. Robert Plant, "Band of Joy"
10. The Walkmen, "Lisbon"