De Neil Jordan (sim, o realizador de cinema) chega aos escaparates das livrarias Amanhecer Com Monstro Marinho, uma história de família em tempo de guerra, com a Irlanda dos anos 30 e 40 por cenário. Este texto foi originalmente publicado na edição de 13 de Novembro do DN Gente.
Conhecemo-lo, sobretudo, como um talentoso realizador de cinema, capaz de contar histórias e nelas revelar a força das suas personagens. E basta citar títulos como Jogo de Lágrimas (de 1992), Entrevista com o Vampiro (1994) ou O Fim da Aventura (1997) para rapidamente traçar o perfil de uma obra em que não faltam grandes filmes. Porém, há muito que o irlandês Neil Jordan é também um bem-sucedido escritor. E, pela Cavalo de Ferro, acaba de chegar às livrarias Amanhecer com Monstro Marinho. Originalmente publicado em 1994, cruza uma narrativa familiar com ecos do tempo político que lhe serve de cenário. Como sucede em muitos filmes seus, a Irlanda é o palco de grande parte da acção. É um livro com uma escrita clara, plena de imagens, integrando diálogos e contexto no texto. O conflito entre um pai e um filho, amplificado pela forma como o passar dos anos transforma o modo como o jovem Donal se relaciona com a presença em casa de uma professora de piano, é o centro de gravidade de uma narrativa igualmente interessada em captar os ecos do tempo histórico em que Neil Jordan a projecta. Um tempo que não apenas joga com o mapa político local na Irlanda dos anos 30 (o pai de Donal chega a ter um cargo governamental) como está atento à escalada de conflitos europeus, da Guerra Civil espanhola (em que o jovem luta contra os falangistas) e, mais tarde, a II Guerra Mundial (por um plano secundário da história evoluindo uma trama de traição, com os alemães na berlinda).