quinta-feira, dezembro 16, 2010

Carlos Pinto Coelho (1944 - 2010)


Jornalista, autor do magazine cultural Acontece (RTP2) e fotógrafo, Carlos Pinto Coelho faleceu no dia 15 de Dezembro, no Hospital de Santa Marta (Lisboa), vitimado por um ataque cardíaco — contava 66 anos.
De 1994 a 2003, o Acontece foi a imagem de marca de Pinto Coelho, persistindo mesmo para além das polémicas suscitadas pelo seu fim. Símbolo de um estilo afável, por vezes exuberante, o seu protagonismo nesse programa está longe de esgotar uma longa carreira repartida por diversas casas, incluindo o Diário de Notícias (onde começou como estagiário em 1968), o Jornal Novo (foi um dos fundadores), a TSF (uma das rádios em que fez locução) e a RTP (onde ocupou, entre outros, os cargos de chefe de redacção da Informação 2 e, no período 1986/89, director de programas de ambos os canais). Desde 2003, era professor de jornalismo na Escola Superior de Tecnologia do Instituto Politécnico de Tomar. Nos últimos tempos, trabalhava numa série de entrevistas, que fica por concluir, para o programa Conversa Maior (RTP Memória).

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Carlos Pinto Coelho foi uma imagem simbólica da televisão que temos e, porventura para além das suas próprias expectativas, da televisão que imaginamos. Daí o modo equívoco como muitos o transformaram em "herói" sem pedestal no momento em que a RTP decidiu por fim ao Acontece. Na verdade, ontem como hoje, certas formas de empolamento da vida interna das televisões (com a aplicação automática e gratuita da palavra "censura") apenas servem para bloquear qualquer reflexão consistente sobre o papel global da televisão — e da RTP em particular — como entidade vital da cultura nacional.
Permito-me, por isso, saudar a sua memória, não a partir de uma mera valorização ("sobre" ou "sub") do Acontece, mas da experiência profissional que com ele tive, na segunda metade da década de 1980, enquanto colaborador da área de cinema da programação da RTP.
Nessa altura, Pinto Coelho era director de programas, tendo Alberto Seixas Santos como adjunto. Por acordo estabelecido entre ambos, Seixas Santos assegurava as tarefas relacionadas com a programação de ficção (cinema + séries + telefilmes), tendo sido com ele que trabalhei mais directamente. Em todo o caso, Pinto Coelho mantinha uma visão didáctica e abrangente que valorizava a maior diversidade possível das programações, tratando nomeadamente o cinema como matéria fulcral da oferta ficcional. Eram opções de uma outra RTP, de uma época específica (anterior à eclosão dos canais privados), cuja pertinência cultural e económica me parece actualíssima.