terça-feira, dezembro 28, 2010

Bo Derek, aliás, José Mourinho


As ideias de José Mourinho são inteligentes e, por isso mesmo, merecem ser discutidas. Isto, claro, se discutirmos o que ele diz, não o que se imagina que ele poderá ter dito... — este texto foi publicado no Diário de Notícias (24 de Dezembro), com o título '"11" numa escala de "10"'.

O futebol espanhol tem um problema grave na péssima qualidade média dos seus árbitros. O exemplo recente do Real Madrid – Sevilha [19 Dez.] é esclarecedor: há muito que não se via uma arbitragem tão medíocre. Que tenha sistematicamente prejudicado o Real, é apenas um pormenor: o árbitro conseguiu destruir qualquer hipótese de espectáculo.
Julgava eu que os protestos de José Mourinho no final do jogo quase passassem despercebidos. Esperei que, por uma vez, se abordasse a arbitragem de forma construtiva, repelindo qualquer forma de clubismo. Mas não: afinal, o “mau da fita” era o próprio Mourinho... Surpresa? Nenhuma. As suas ideias não são intocáveis mas, em termos mediáticos, muitos tratam-no apenas como um alvo disponível.
Poucos dias antes, tinha sido pedido a Mourinho que se classificasse numa escala de zero a dez. Resposta: “11”. Curiosamente, ninguém faz estas perguntas patéticas a outros treinadores... Ainda assim, esperei que, ao menos, o mundo do futebol detectasse a memória irónica de uma cena do filme Uma Mulher de Sonho (1979), quando é pedido a Dudley Moore que classifique a beleza de Bo Derek numa escala de zero a dez. Resposta: “11”. Que tristeza: já não há sentido de humor no mundo do futebol e, pelos vistos, a cinefilia também anda muito por baixo.