Não conquistou o reconhecimento global que o finlandês Jean Sibelius, seu contemporâneo, atingiu. Nem a dimensão do norueguês Edward Grieg. Mas, e tal como o dinamarquês Carl Nielsen, o sueco Hugo Alfvén é uma das grandes referências na afirmação de uma identidade musical escandinava cujas bases assentam directamente no romantismo e partem depois à descoberta de relações directas com a sua genética cultural local. O seu idioma. Reunidas numa caixa de cinco CD (edição Brilliant Classics), as cinco sinfonias de Alfven, assim como uma série de pequenas outras obras sinfónicas surgem em belíssimas gravações pela Real Orquestra Filarmónica de Estocolmo, sob direcção de Neeme Järvi, recuperando gravações originalmente editadas pela sueca BIS Records entre finais dos anos 80 e inícios dos noventas.
Foi o próprio Hugo Alfvén quem, nos anos 50, evocou a sua primeira sinfonia, que data de 1897, como a primeira escrita numa “linguagem sueca” uma vez que, a seu ver, os seus “prececessores (…) estavam fortemente influenciados pela música alemã ou dinamarquesa”. Steve Jacobsen, nas notas que acompanham esta caixa da Brilliant Classics, reconhece na Sinfonia Nº 1 de Alfvén não apenas “a primeira prova das suas capacidades pessoais”, mas também um trabalho de significado pioneiro criação de uma identidade sinfónica sueca. Conhecedor das dinâmicas de uma orquestra (integrou uma como violinista, mais tarde seria também maestro), Alfvén começou a afirmar nessa composição de finais do século XIX uma obra que esta edição permite (re)descobrir de um modo panorâmico. Entre as várias obras passam ecos de olhares pela natureza, sensações de espaços e mesmo narrativas, conseguindo a espantosa Sinfonia Nº 4 (estreada em 1919) juntar todos estes “programas”. Expressão de uma tendência da época em tomar o mar como fonte de inspiração – que se escutara recentemente na música de Elgar (Sea Pictures, de 1899), Debussy (La Mer, de 1904) ou Vaughan Williams (Sea Symphony, de 1910) ou Sibelius (Oceanides, de 1914) – a Sinfonia Nº 4 (e En Skargardssägen, que de certa forma lhe servira como esboço) representa um dos momentos altos não só da obra do compositor mas do alinhamento desta caixa. Inspirado pelo arquipélago em volta de Estocolmo, Alfvén narra através desta sua Sinfonia Nº 4 a história de um amor com as ilhas, as suas paisagens nocturnas e força das ondas por cenário.
Excerto de uma gravação da Sinfonia Nº 4 de Alfvén
Excerto de uma gravação da Sinfonia Nº 4 de Alfvén