[1] Darkness on the Edge of Town (1978), título decisivo na discografia de Bruce Springsteen, regressou às lojas numa fabulosa edição, revista e (muito) ampliada — esta é a segunda parte de um conjunto de textos publicados no Diário de Notícias (20 de Novembro).
A 22 de Maio de 1974, no jornal de Boston The Real Paper, o critico de música Jon Landau escreveu uma das frases mais célebres da história da música popular americana: “Eu vi o futuro do rock and roll e o seu nome é Bruce Springsteen”. Landau reagia assim a um concerto de Bruce no Harvard Square Theatre e o mínimo que se pode dizer é que, como num filme, esse foi o princípio de uma bela amizade: Bruce acabaria por contratar Landau que, além de produzir o seu álbum seguinte, Born to Run (1975), se transformou num fundamental colaborador e conselheiro.
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Mas os tempos estavam também ensombrados pela irreversível degenerescência da cultura “hippie” e, sobretudo, nos EUA, pela proximidade muito palpável das feridas da guerra do Vietname. Com a reedição de Darkness on the Edge of Town, o álbum de 1978 que Bruce gravou a seguir a Born to Run, podemos redescobrir agora as convulsões dessa época em que, em boa verdade, não havia nenhuma certeza capaz de unificar a música popular anglo-saxónica. O ano de 1977 envolvera mesmo dois acontecimentos de dramático simbolismo: a edição do álbum homónimo de The Clash, celebrando todo o desencanto agreste do movimento punk, e a morte de Elvis Presley (a 16 de Agosto, contava apenas 42 anos), porventura o derradeiro ícone de um imaginário desesperadamente juvenil.
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A resposta contida em Darkness on the Edge of Town adquiriu um valor tanto mais emblemático quanto o tempo mostrou que pode sintetizar algumas das componentes vitais do universo criativo de Bruce. Por um lado, este é um álbum que celebra a enérgica crueza de um som que teria o seu momento mais popular no lendário Born in the USA (1984); por outro lado, há nele uma dimensão intimista que se viria a ampliar no minimalismo técnico de Nebraska (1982) e também na comovente introspecção desse diálogo com a dolorosa herança do 11 de Setembro que foi The Rising (2002). As sombras a que se refere a canção título surgem, afinal, contrariadas pela luminosidade de canções definitivamente adultas. Em The Promise Land, Bruce canta mesmo: “(...) não sou um rapaz, não; sou um homem / e acredito numa terra prometida”.