quarta-feira, novembro 03, 2010

Era uma vez, à beira mar...


Um conto à beira mar, que começa como aparente coisa nos domínios do fantástico, mas se calhar (e não vamos “estragar” completmente a surpresa ao espectador contando a história) pode não ser o que parece… Ondine, escrito e realizado por Neil Jordan, acompanha, a descoberta, por um pescador solitário, de uma mulher em pleno mar… A sua filha (que agora vive com a mãe) julga-a uma selkie, um ser mitológico daqueles lados que, com forma humana em terra, no mar vive sob a forma de uma… foca. Sem uma agenda sociológica no horizonte da narrativa, Neil Jordan lança em primeiro lugar a rede a um interessante debate sobre o poder da crença nas mitologias (até onde vai a nossa vontade em acreditar). Mas toma depois o romance que se vai desenhando entre o pescador e a estranha visitante como centro de gravidade. E pouco mais… Tanto que, quando a mitologia cede à realidade, a coisa acaba mal resolvida, uma certa fantasia (a do no cinema tudo é possível) acabando por não levantar ferros onde, na verdade, uma abordagem de maior alma realista poderia acabar por dar outro sentido à história… Colin Farrell, que interpreta o papel do pescador, é aqui um peixe fora de água… E vale-nos a belíssima fotografia de Christopher Doyle que, por si só (mais a mençãozita aos Sigur Rós), é decididamente o melhor de um filme pouco entusiasmante.


Imagens do trailer de Ondine.