Continuamos a publicação de uma entrevista com Chris Baio, dos Vampire Weekend, que serviu de base ao artigo ‘Quando o espectador faz a diferença’, publicado na edição de 10 de Novembro do DN.
Há 20 anos os ciclos habituais eram de um álbum por de ano e, há uns 40, 2 LPs ao ano. O que mudou em 40 anos que espaçou tanto os lançamentos de discos?
Creio que há várias razões, mas uma delas tem a ver com o facto de as pessoas não venderem discos como se fazia, pelo que é nas digressões que se ganha dinheiro. Agora temos ciclos de digressões com 18 meses, o que não era assim quando se fazia um álbum por ano. Nesse tempo fazia-se uma digressão de seis meses e estava feito! Do primeiro ao último concerto de uma digressão agora passam uns 18 meses. E depois disso é preciso parar para nos sentirmos inspirados. Há um documentário sobre os Clash que mostra como, de 1979 a 1982, estavam a editar um álbum por ano, incluindo um disco triplo. O Joe Strummer queixa-se de nunca terem parado e isso foi o que ditou o fim da banda. Nós sabemos que, nesta altura, não estamos a brigar uns com os outros. Até nos damos muito bem. E estamos entusiasmados por irmos fazer um terceiro álbum. Mas sabemos que precisamos de parar. Temos de estar connosco mesmos, para sabermos o que sentimos… para poder depois trabalhar na nossa música. Quando editámos o nosso segundo álbum, e creio que a edição de um segundo disco representa sempre um momento de referência, acho que nos saímos bem. Sentimos que éramos então uma banda a sério e não apenas uma banda de um disco só. Sentimo-nos orgulhosos. Agora sentimos que podemos descansar um pouco.
As experiências a solo, como as de Rostam [Batmaglij] nos Discovery, ou de Ezra [Koenig] com os Very Best, fazem bem à saude de uma banda?
Sem dúvida. Eu próprio vou fazer uma digressão, como DJ, pela Austrália para o final do ano. Vai ser a primeira vez que vou viajar sozinho a fazer coisas com música. É entusiasmante. Acho que é bom trabalhar com música fora de uma banda, pode fazer com que as coisas sejam especiais quando nos voltamos a reunir.
Quão entusiasmante é estar em palco a tocar as mesmas canções, concerto após concerto, nestes ciclos de 18 meses na estrada?
Uma coisa sobre a qual não se fala muitas vezes é a forma como uma plateia diferente pode marcar um concerto. Neste momento somos músicos já rodados e sabemos que vamos tocar de forma consistente todas as noites. Nunca soaremos frágeis nesta etapa… Há canções que já tocámos umas 200 vezes… Mas quando penso quão entusiasmante um concerto hoje vai ser penso mais no público que vamos ter. Quando tocámos no SBSR o público estava delirante. Foi muito bom. Foi talvez um dos melhores concertos que alguma vez démos… Isso não teve a ver connosco, mas com a multidão à nossa frente. Podemos perder-nos naquele momento quando as coisas correm assim tão bem… A repetição que uma digressão implica pode sugerir aborrecimento, mas pela forma como nos relacionamos com uma plateia podemos evitar sempre essa sensação.
Ser músico é um emprego? E pode sê-lo por quanto tempo?
Penso muito nisso… E quando for mais velho quero fazer algo diferente. Gosto de tocar, gosto de fazer música e assusta-me um pouco a ideia que a única coisa que possa fazer seja tocar canções dos Vampire Weekend num palco quando tiver uns 50 ou 60 anos… Quero desenvolver outros talentos. Gosto por isso da ideia de um dia poder vir a fazer outra coisa na vida. Se é um emprego? Na verdade é o melhor emprego que poderia ter neste mundo. Mas estar em digressão é um emprego, sim.
(continua)