Como reagir à formatação do "fantástico", nos últimos anos liderada pela tecnocracia digital dos filmes de "Harry Potter"? Pois bem, o francês Benoît Jacquot, incansável arqueólogo de todos os romantismos, tem uma resposta muito directa e contundente: o seu estranho e magnífico Au Fond des Bois propõe um delírio surreal capaz de desafiar todos os modelos correntes de figuração da Natureza, do Sexo e da Morte – e sem qualquer submissão ao novo-riquismo dos "efeitos especiais".
Centrado no encontro bizarro da jovem Joséphine (Isilde Le Besco), filha de um médico humanista do século XIX, e Timothée (Nahuel Perez Biscayart), um vagabundo com poderes mágicos, Au Fond des Bois possui o poder encantatório de uma fábula em que a dimensão selvagem dos desejos se exprime através de uma desarmada transparência. Apresentado no Estoril, fora de competição, fica como um dos momentos mais inclassificáveis, e também mais fascinantes, do festival – aqui fica o trailer.