domingo, novembro 14, 2010

As canções dos homens-máquina

Discografia Kraftwerk - 17
'The Man Machine' (álbum), 1978


Há três discos com decisiva (e incontornável) importância histórica na obra dos Kraftwerk. O primeiro deles o visionário Autobahn (de 1974) que definiu a descoberta um caminho. Depois, de 1977, o clássico Trans Europe Express, no qual o grupo afinou e arrumou ideias na composição, na procura de sons e na relação entre a canção e uma ideia de geometrismo rítmico metronomicamente correcto. O terceiro título “essencial” da obra do quarteto alemão chegaria em 1978 em The Man Machine, o disco no qual atingem a criação dos paradigmas de uma nova identidade pop que teria consequências futuras. De resto, o mundo da música popular que hoje conhecemos não seria o mesmo sem a expressão de uma nova forma de fazer canções com ferramentas electrónicas como a que os Kraftwerk nos deram neste seu disco de 1978. Canções como The Robots, Neon LIghts e, sobretudo, o perfeito The Model, assinalam um momento de encontro entre a linguagem que o grupo vinha a depurar, progressivamente, desde Autobahn e as formas clássicas da canção pop. O disco acabaria por ser o definitivo catalisador de uma nova ordem que nascia então em clima pós-punk, e da qual emergiriam primeiros herdeiros ainda em finais da década de 70 e uma verdadeira multidão de seguidores na alvorada dos oitentas. Além das questões formais ligadas à construção musical, o álbum transportou, como o haviam feito os discos anteriores do grupo, uma carga conceptual, explorando a ideia do homem-máquina (e, ao mesmo tempo, as relações entre o homem e a máquina), abrindo possivelmente aqui um espaço de confronto com os puristas da música de guitarras, muitos deles vendo então com pouco entusiasmo a entrada em cena desta música claramente diferente.