terça-feira, outubro 19, 2010

Virginia Woolf, segundo Sally Potter


Teve finalmente edição local em DVD um dos mais belos títulos da filmografia dos noventas. Assinado por Sally Potter e contando com uma espantosa Tilda Swinton como figura central, Orlando nasce de uma adaptação ao grande ecrã do romance homónimo de Virginia Woolf. Uma história que cruza séculos mas que, mais que de imortalidade, centra o tutano da atenção numa surpreendente abordagem às noções de género.

Em traços largos, esta é a história de um jovem aristocrata inglês, de traços andróginos, que desperta o interesse da rainha Isabel I (aqui numa interpretação magnífica, que cruza fausto e decadência, por Quentin Crisp). Ciente do seu fim próximo, a monarca deixa-lhe uma farta herança, pedindo-lhe apenas um favor: que não envelheça… Orlando não envelhecerá nunca. E, quando uma manhã, repara que o seu corpo mudou e, agora, é uma mulher, o que conclui é que nada mudou, tudo é igual, apenas o corpo está diferente… Com uma espantosa direcção artística (de resto com nomeação para os Oscares em 1994) Sally Potter propõe um registo que opta pela contemplação formal da imagem sem sentir a necessidade de vincar uma noção de realismo. Sentem-se mesmo afinidades com as linguagens “de época” de algum cinema de Peter Greenaway ou Derek Jarman. Nota ainda para mais um elemento de ousadia formal no retratar de quadros de época (a acção percorre tempos, desde o século XVI aos anos 90 do século XX), na música que Jimmy Somerville canta, em cena, ora numa barcaça real ao serviço de Isabel I, ora feito anjo, num belíssimo epílogo em forma de canção pop. Uma das grandes (re)edições em DVD do ano, sem dúvida!


Imagens do trailer de Orlando