No mínimo, uma experiência magnífica, a produção de O Ouro do Reno que abriu ontem o programa Met Opera Live in HD na Gulbenkian! Mas vamos por partes. Em primeiro lugar o ambiente, na verdade não muito diferente do que conhecemos dos concertos no Grande Auditório da Gulbenkian (ou mesmo de uma récita de ópera no São Carlos). Público a horas, respeitando o silêncio na sala, o ritmo da apresentação (sem intervalo) e até mesmo com aplausos no final, não apenas ao soar da última nota, mas também quando alguns dos cantores surgiram no ecrã, agradecendo (por lá), ao público que no passado dia 9 encheu o Met, em Nova Iorque, para ver a primeira ópera desta nova tetralogia que tem como protagonistas o encenador Robert Lepage, o maestro James Levine e a voz de Bryn Terfel (naquele que é o seu primeiro “anel” completo).
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E da ópera em si… Fabulosa em todos os sentidos. Se dos cantores no elenco anunciado não se esperava senão o melhor (correspondendo todos, acrescente-se) e da orquestra do Met se adivinhava igual performance sob a direcção conhecedora e entusiasmada de Levine, a surpresa em cena recaía, naturalmente, sobre a muito esperada visão de Robert Lepage para a primeira parte desta tetralogia de Richard Wagner. Com o palco dominado por uma estrutura de 45 toneladas a que, simplesmente a produção passou a tratar como “a máquina”, a cenografia tem nesse conjunto de elementos (em constante movimento, ora transformando-se em paredes, rampas, escadas ou plataformas) a sua base de trabalho, ganhando vida com a soma de um soberbo trabalho de luz e de projecções em vídeo. Entre o aparente minimalismo de elementos cénicos e a abundância de soluções que possibilitam o “anel” para o século XXI de Lepage, Levine e Terfel (e podemos chamar-lhes os "senhores do anel") abriu com um espantoso O Ouro do Reno e promete ficar na história.
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Sobre a qualidade do som e imagem apenas algumas notas mais. Se durante a reportagem making of e entrevista a Terfel que antecederam a ópera propriamente dita o som poderia ter estado a um volume ligeiramente mais alto, já durante a performance esteve como se exigia. A imagem é igualmente apurada e a realização, sublinhe-se, inteligente e capaz de nos fazer esquecer que havia um oceano entre nós e aquele palco. Houve apenas um ligeiro erro de sinal na Cena 2 e discretos “soluços” no som já durante os aplausos mas, tecnicamente, a estreia do Met Opera live in HD correu bem. Era um diferido, como se sabia. Mas no próximo sábado, com um Boris Godunov, de Mussorgsky, poderemos sentir, pela primeira vez, um directo.
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Entretantom vale a pena ler aqui o artigo do New York Times sobre esta produção do Met. E, já agora, ver a soberba galeria de imagens (captadas nos ensaios) que o acompanha.
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Entretantom vale a pena ler aqui o artigo do New York Times sobre esta produção do Met. E, já agora, ver a soberba galeria de imagens (captadas nos ensaios) que o acompanha.