segunda-feira, outubro 18, 2010

Novas edições:
Sufjan Stevens, The Age of Adz


Sufjan Stevens
“The Age of Adz”
Asthmatic Kitty / Popstock
5 / 5


Não esteve parado, editou vários discos pelo caminho e assinou colaborações. Mas, na verdade, só agora, com The Age of Adz, temos o sucessor, comme il faut, de Illinoise. Sucessor porque em The Age of Adz encontramos o seu primeiro álbum de novas canções originais que edita desde que, em 2005 o álbum que dedicava ao estado que tem Chicago como maior cidade (e Chicago, no alinhamento do disco, como uma das mais belas canções da década dos zeros). Pelo caminho tivemos um álbum de “extras” (para não lhes chamar sobras) de Illinoise em The Avalanche (2006); uma caixa de cinco EPs com canções de Natal (Songs For Christmas, 2006), um filme e respectiva banda sonora sobre uma auto-estrada nova-iorquina (BQE, 2009) e uma colecção de quartetos de cordas pelo ensemble Osso (Run Rabbit Run, 2009)… Daí que, só alguém que nos últimos cinco anos tenha andado por Marte ou qualquer lua distante poderá sentir surpresa a um primeiro contacto com as canções de The Age od Adz. Na verdade, e depois de uma primeira sucessão de discos em que afirmou o seu talento como escritor de canções, a sua obra tem traduzido uma visão invulgarmente rica em desafios e experiências (o que, de certa forma, já se materializava entre as canções de Illinoise). Em The Age Of Adz toma as electrónicas como ferramenta protagonista, mas não esquece nem o gosto pela criação de arranjos sumptuosos (em evidente continuidade ao trabalho em Illinoise e mesmo BQE) nem abandona, neste reencontro com as canções, um sentido melodista absolutamente espantoso, mesmo não reflectindo já a sua escrita um interesse pelos modelos mais clássicos de verso, refrão e por aí adiante. É um disco absolutamente pessoal, as palavras reflectindo, tal como a música, expressões de interesses e demandas na primeira pessoa. Cruza uma visão da música enquanto obra maior que exige outra atenção, sem ignorar, através de pequenos ganchos melódicos, os códigos de audição na era da gratificação imediata. Parte de raizes e referências da sua obra passada e propõe algo novo… Talvez tenha música a mais (75 minutos, 25 deles cabendo à faixa que encerra o alinhamento, Impossible Soul)… E talvez seja ainda cedo para ter uma opinião definitiva… Mas , ao cabo de uma semana de audições ‘em repeat’, a surpresa ainda se manifesta a cada reencontro, com a sensação de, aos poucos, ir arrumando ideias.