domingo, outubro 31, 2010

No centenário de Samuel Barber


Uma ideia clara de identidade americana na música orquestral surge em Charles Ives. E conhece depois importantes contribuições no século XX acentuando, como sucedeu com as demais formas de expressão artística nos EUA, uma noção de multiculturalidade, muitas vezes partindo as ideias de um cruzamento de heranças europeias com novas realidades (afinal, nada senão uma expressão directa da própria história do país). São frequentemente celebradas, sobretudo, as contribuições de nomes como George Gershwin, Aaron Copland e Leonard Bernstein no aprofundar dessa construção de uma música americana. O retrato não pode contudo esquecer a contribuição de Samuel Barber (1910-1981), cuja integral da obra orquestral acaba de conhecer edição numa caixa de seis CD que, na verdade, são são mais que os discos que, entre 2000 e 2004 a maestrina norte-americana Marin Alsop dedicou ao compositor, dirigindo então a Royal Scottish National Opera. A edição de Samuel Barber – Complete Orchestral Works é um lançamento da Naxos.

Importa, antes de mais, não reduzir Samuel Barber ao célebre Adagio For Strings, que se tornou clássico instantâneo e, desde logo, peça de repertório para inúmeras orquestras desde que apresentada por Toscanini, com a orquestra da NBC, em 1937. São vários os compositores que muitas vezes são recordados sistematicamente pela mesma e única obra (uns com mais razão, outros nem por isso). Como Holst com a suite Os Planetas, ou Carl Orff em Carmina Burana… E basta caminhar entre as gravações aqui reunidas para sentir que tremenda injustiça seria feita à sua obra se o encarássemos, tal como se diz na cultura pop, como um ‘one hit wonder’. Na verdade nem o foi, pelo que a comum associação do seu nome a essa peça de 1937 não é mais senão uma consequência do que parece ser a expressão da pouca vontade de quem programa concertos, dirige orquestras ou planifica edições discográficas, em olhar, por vezes, adiante do lugar-comum… Barber venceu por duas vezes o Pulitzer – pela sua ópera Vanessa (co-assinada por Carlo Menotti, o seu companheiro durante longos anos) e pelo Concerto para Piano e Orquestra (este último incluído na caixa agora editada). Knoxville 1915, que parte de um poema de James Agee, é uma das mais belas peças para voz e orquestra do seu tempo e traduz, de forma incrível, sensações de um serão em clima de verão sulista… A bem-sucedida abertura The School For Scandal (a sua primeira obra para orquestra, datada de 1931), é uma entre as muitas referências possíveis na definição de uma música que o cinema de Hollywood tomou como paradigma (ainda hoje evidente). O romantismo da música de Samuel Barber (pelo qual não deixam contudo de passar marcas de modernidade) não o levou pelos mesmos caminhos dos visionários mais radicais a que a história do pós-guerra daria outra visibilidade. No ano do seu centenário, esta caixa foi das poucas edições a assinalar a memória da sua música. Uma vez mais sublinhando em Marin Alsop a descendência de uma vontade em celebrar os grandes compositores da música americana como, em tempos, o fez Leonard Bernstein.