domingo, outubro 31, 2010

Em conversa: Daniel Harding (3)


Continuamos a publicação de uma entrevista com o maestro Daniel Harding que serviu de base ao artigo ‘A obra de Carl Off que resiste ao tempo’ publicada a 10 de Outubro no DN.

Como preparou a gravação de Carmina Burana? Ouviu outras gravações? E como encontrou a sua forma de lidar com esta obra e como se descobriu a si nela?
Ouvimos as outras interpretações porque são interessantes. E quando se é mais novo fala-se com os mais velhos sonbre questões que sejam problemáticas. É sempre educativo… Mas nunca me preocupo sobre a forma como encontro a minha interpretação. Creio que se aprendemos com os outros, a ouvir o que nos dizem, no fim há uma relação entre nós e a página e a música e, da forma mais honesta que sabemos, interpretamos como entendemos o que está escrito na partitura. Tento apenas compreender o que Carl Orff escreveu. Não tem a ver comigo nem com outras gravações. Tem ver com uma transmissão muito honesta do que está ali. Não tento ser diferente nem ser igual. Tento apenas ser o que sou quando leio a partitura.

Capa do disco mostra-o numa pose e visual algo invulgares num maestro…
A minha mãe detestou. Perguntou-me como é que eu tinha deixado sair uma foto em que estou com uma cara de tão poucos amigos?…

Sente que há, na generalidade, uma mudança de imagem nas capas dos discos na música clássica?
Tenho uma nostalgia pelas capas, mas isso era nos dias dos LPs em que se podia fazer algo mais artistico. Os discos pareceiam logo ter classe e ser importantes. Para ser honesto, as grandes mudanças no mundo das gravações em disco de música clássica devem-se so facto deste ser hoje um mundo mais duro. Vender discos é um grande desafio. Todos temos de nos adaptar. E isto não acontece apenas com a música clássica. A pirataria coloca mais problemas nas áreas da música pop que na clássica apenas porque essa é uma música mais popular… Todos temos de pensar qual vai ser o próximo modelo a seguir. E o marketing tornou-se mais importante…

O que pensa das novas possibilidades que a tecnologia digital está hoje a trazer ao universo da música clássica, como o programa Digital Concert Hall da Philharmonie em Berlim (que permite ver concertos, em directo, online) ou a temporada do Met em transmissões em alta definição?
O Digital Concert Hall é um projecto incrivelmente bem feito. Quando dirigi lá, no ano passado, mostraram-me como tudo funciona. Tem grande qualidade. A minha família, que não pode ir ver o concerto, assistiu em casa, através da Internet. Eles depois criaram um arquivo, onde podemos rever o que não pudémos ver. Não apenas ouvir, mas ver. Com, a Met Opera o que estão a fazer também é bem interessante. Tive apenas uma preocupação uma vez, numa pequena cidade na Escandinávia, que tinha a sua própria companhia da ópera a lutar pela sobrevivência. Tinham o seu público mas, ao mesmo tempo, tinham de competir com a Metropolitan Opera, com transmissões em alta definição numa sala de cinema… É maravilhoso, mas espero que nas pequenas cidades as pessoas ainda vão ver as actuações ao vivo e apoiem os seus artistas locais e não se limtem a ir ao cinema para ver as grandes produções de Nova Iorque.