quinta-feira, outubro 21, 2010

Elizabeth Leonskaja: o génio da contenção

FOTO [reenquadrada] Jean Mayerat

Ainda a tempo... uma memória breve do concerto de Elizabeth Leonskaja no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian (17 de Outubro): símbolo da grande escola russa, Leonskaja veio tocar, em substituição de Murray Perahaia (indisponível por motivo de doença), obras de Robert Schumann (Papillons op. 2; Estudos Sinfónicos op. 13) e Franz Schubert (Sonata em Si bemol maior, D.960). A noção de "versatilidade" não basta para dar conta dos discretos milagres a que pudemos assistir. De facto, a sua relação com o património romântico está muito para além de qualquer atitude exibicionista. Há em Leonskaja uma contenção — por vezes, no sentido mais literal de pudor em violentar as teclas — que a faz (e nos faz) encarar a obra como um enigma que, mesmo podendo não ser esclarecido, induz um paciente labor de contemplação e desmontagem. Como se ela trouxesse a música numa memória tão íntima que a interpretação só pode ser confessional — desde já, e em termos muito simples, um dos concertos mais austeros, e também mais belos, da temporada 2010/2011.

>>> Elizabeth Leonskaja em Gstaad (2010), interpretando um Improviso (op. 90), de Schubert.