
O debate sobre os valores televisivos em Portugal surge muitas vezes inquinado por “evidências” profundamente equívocas. A ditadura dos números impôs um determinismo meramente económico (audiências = publicidade) que bloqueia qualquer hipótese de reflexão sobre as componentes sociais e políticas do espaço televisivo. Em boa verdade, na sua versão mais agressiva, esse determinismo limita-se a insultar como um perigoso “intelectual” todo aquele que pretenda pensar as questões com outra abrangência (é verdade: Portugal é um país em que a palavra “intelectual” pode servir de insulto).
Fiquemo-nos, hoje, pela questão muito básica dos horários dos programas. Seria redutor considerar que as programações podem ser avaliadas apenas através dos respectivos horários. Mas importa também reagir ao lugar-comum que, de forma mais ou menos automática, proclama que aquilo que acontece em Portugal não passa de uma repetição do que prevalece nos outros países, nomeadamente na Europa.

A questão de fundo é esta: em Portugal, deixou de ser possível encontrar estes produtos nos horários em que foram programados em França e na Grã-Bretanha. Os exemplos são reveladores e, para nossa maior desgraça, multiplicam-se todos os dias. Por isso, a pergunta é: de que falamos quando falamos da Europa?