Nenhuma programação televisiva pode ser pensada apenas a partir dos respectivos horários. Em todo o caso, há neles, e através deles, sintomas muito reveladores de opções de fundo — este texto foi publicado no Diário de Notícias (10 de Setembro), com o título 'A questão dos horários'.
O debate sobre os valores televisivos em Portugal surge muitas vezes inquinado por “evidências” profundamente equívocas. A ditadura dos números impôs um determinismo meramente económico (audiências = publicidade) que bloqueia qualquer hipótese de reflexão sobre as componentes sociais e políticas do espaço televisivo. Em boa verdade, na sua versão mais agressiva, esse determinismo limita-se a insultar como um perigoso “intelectual” todo aquele que pretenda pensar as questões com outra abrangência (é verdade: Portugal é um país em que a palavra “intelectual” pode servir de insulto).
Fiquemo-nos, hoje, pela questão muito básica dos horários dos programas. Seria redutor considerar que as programações podem ser avaliadas apenas através dos respectivos horários. Mas importa também reagir ao lugar-comum que, de forma mais ou menos automática, proclama que aquilo que acontece em Portugal não passa de uma repetição do que prevalece nos outros países, nomeadamente na Europa.
Dois exemplos: na terça-feira [dia 7], em França, a TF1 programou, às 20h45, a série CSI: Miami; para o próximo domingo [dia 12], a BBC2 anuncia, às 21h00, Diário de um Escândalo, filme de Richard Eyre com Judi Dench e Cate Blanchett. Que programas são estes? Não creio que correspondam ao modelo de esoterismo que, tradicionalmente, se associa ao tal pernicioso “inte-lectualismo”... CSI é, em termos muito simples, a mais popular série do planeta. Quanto ao filme em causa, além de protagonizado por duas actrizes muito conhecidas, obteve quatro nomeações para os Oscars de 2006 (aliás, se se trata de discutir o seu apelo “comercial”, digamos, para simplificar, que a contundência com que nele se encena uma paixão lésbica reduz qualquer telenovela “chocante” a uma patética brincadeira de crianças).
A questão de fundo é esta: em Portugal, deixou de ser possível encontrar estes produtos nos horários em que foram programados em França e na Grã-Bretanha. Os exemplos são reveladores e, para nossa maior desgraça, multiplicam-se todos os dias. Por isso, a pergunta é: de que falamos quando falamos da Europa?
O debate sobre os valores televisivos em Portugal surge muitas vezes inquinado por “evidências” profundamente equívocas. A ditadura dos números impôs um determinismo meramente económico (audiências = publicidade) que bloqueia qualquer hipótese de reflexão sobre as componentes sociais e políticas do espaço televisivo. Em boa verdade, na sua versão mais agressiva, esse determinismo limita-se a insultar como um perigoso “intelectual” todo aquele que pretenda pensar as questões com outra abrangência (é verdade: Portugal é um país em que a palavra “intelectual” pode servir de insulto).
Fiquemo-nos, hoje, pela questão muito básica dos horários dos programas. Seria redutor considerar que as programações podem ser avaliadas apenas através dos respectivos horários. Mas importa também reagir ao lugar-comum que, de forma mais ou menos automática, proclama que aquilo que acontece em Portugal não passa de uma repetição do que prevalece nos outros países, nomeadamente na Europa.
Dois exemplos: na terça-feira [dia 7], em França, a TF1 programou, às 20h45, a série CSI: Miami; para o próximo domingo [dia 12], a BBC2 anuncia, às 21h00, Diário de um Escândalo, filme de Richard Eyre com Judi Dench e Cate Blanchett. Que programas são estes? Não creio que correspondam ao modelo de esoterismo que, tradicionalmente, se associa ao tal pernicioso “inte-lectualismo”... CSI é, em termos muito simples, a mais popular série do planeta. Quanto ao filme em causa, além de protagonizado por duas actrizes muito conhecidas, obteve quatro nomeações para os Oscars de 2006 (aliás, se se trata de discutir o seu apelo “comercial”, digamos, para simplificar, que a contundência com que nele se encena uma paixão lésbica reduz qualquer telenovela “chocante” a uma patética brincadeira de crianças).
A questão de fundo é esta: em Portugal, deixou de ser possível encontrar estes produtos nos horários em que foram programados em França e na Grã-Bretanha. Os exemplos são reveladores e, para nossa maior desgraça, multiplicam-se todos os dias. Por isso, a pergunta é: de que falamos quando falamos da Europa?