domingo, setembro 12, 2010

'Scary Monsters', 30 anos depois


A década de 70 tinha feito de David Bowie a mais presente, visionária e popular das figuras pop/rock de então. Do herói glam rock de Ziggy Stardust e Aladdin Sane à sua reinvenção via rhythm’n’blues em Young Americans, da visão de modernidade (assimilando as revelações dos Kraftwerk e demais ensaistas alemães) em Station To Station à chamada “trilogia berlinense” que ajudou a inventar o som dos oitentas, a sua obra tinha coonhecido uma versatilidade ímpar e uma invulgar qualidade criativa. Os anos de Berlim, contudo, tinham-se revelado artisticamente mais consequentes que comercialmente bem sucedidos. E, ao chegar aos oitentas, Bowie procurou a conciliação dos dois mundos, nascendo Scary Monsters como a perfeita soma de partes que, de facto, fez a diferença (e com resultados).

O álbum foi editado há precisamente 30 anos, a 12 de Setembro de 1980, revelando um alinhamento de canções capaz de somar a diferença e ao mesmo tempo sugerir uma noção de unidade. Por um lado incluía Ashes To Ashes, single editado algumas semanas antes e que, acompanhado por um teledisco de David Mallet, sublinhava a relação atenta do músico com as novas linguagens de comunicação ao serviço da música pop. Depois juntava Fashion (lançado como single em finais de Outubro), que se tornaria num hino para uma nova geração que então inventava o som dos oitentas ao escutar os seus discos nas chamadas Bowie Nights que estavam a dar que falar na noite londrina. Scary Monstetrs, o tema-título, assinalava um regresso à intensidade eléctrica do rock’n’roll. Up The Hill Backwards surpreendia ao escutar genéticas do teatro musical (na verdade não mais senão um reencontro co memórias fundadoras da indentidade do próprio Bowie). Em It’s No Game cruzava inglês e japonês num tema de abertura que deixava claro que, num disco que procurava a reconciliação com um grande mercado, não abdicava de uma personalidade mais dada à procura e descoberta que à repetição.

Tudo isto era apresentado numa capa desenhada que juntava a imagem do pierrot (surgida no teledisco de Ashes To Ashes) a olhares sobre o passado do próprio Bowie.



Imagens de uma actuação em palco em Nova Iorque, em 1997 ao som de Scary Monsters (and Super Creeps), tema-título e uma das canções centrais do alinhamento do álbum.