sábado, setembro 18, 2010

O ténis e o seu silêncio

FOTO Philip Hall / usopen.org

A vitória de Rafael Nadal no Open de Ténis dos EUA foi um grande momento desportivo, e tanto mais quanto Novak Djokovic esteve longe de ser um vencido banal. Bom pretexto para uma breve reflexão sobre o tratamento televisivo do ténis — este texto integrava uma crónica televisiva publicada no Diário de Notícias (17 de Agosto).

Quando vemos as imagens em HD do Open de Ténis dos EUA (Eurosport), pressentimos a “nova idade” televisiva. A alta definição convoca-nos para uma outra relação (realista?) com os acontecimentos e também as matérias do espectáculo. O mesmo se pode dizer, aliás, de alguns canais que emitem exclusivamente filmes (ou séries): mesmo não menosprezando o património simbólico das salas de cinema, as condições caseiras de consumo deram um salto imenso, capaz de alterar os valores de toda a paisagem audiovisual.
Em todo o caso, o destaque do ténis justifica-se também por razões... sonoras. Eis um desporto em que, pelo menos por alguns segundos (em torno dos momentos de serviço), os espaços do jogo são invadidos por um maravilhoso silêncio. Mais ainda: a maioria dos comentadores sabe respeitar esse silêncio, aguardando o desenlace de cada ponto para tecer as suas considerações.
Não se espera que o futebol possa ser tratado da mesma maneira. Mas há, aqui, uma lição pedagógica para os comentadores que não sabem partilhar com o espectador o privilégio de ouvir a complexa textura sonora de um estádio. Em vez de “racionalizar” tudo o que acontece, seria interessante abrir pequenos oásis de escuta: não precisamos que, cada vez que um jogador toca na bola, nos esmaguem com o rol de golos que ele marcou na época anterior, as equipas que já serviu ou os contratos que assinou... Alguns silêncios servirão também para valorizar as palavras.