RENÉ MAGRITTE
O Tempo Ameaçador
1929
Com a sua démarche madrilena para tentar contratar José Mourinho para dois jogos da selecção portuguesa, Gilberto Madaíl conseguiu uma proeza pouco invejável: a de recolocar no imaginário colectivo a noção de homem providencial.
É bem verdade que o mais rudimentar bom senso poderia, e deveria, ter impedido tão desastrado episódio: não é preciso ser um especialista do mundo do futebol (muito menos um profissional das suas instituições) para compreender que Mourinho não teria condições laborais para responder automaticamente, e afirmativamente, a tal convite.
É bem verdade que o mais rudimentar bom senso poderia, e deveria, ter impedido tão desastrado episódio: não é preciso ser um especialista do mundo do futebol (muito menos um profissional das suas instituições) para compreender que Mourinho não teria condições laborais para responder automaticamente, e afirmativamente, a tal convite.
Em todo o caso, a questão simbólica não é essa. Mesmo que Mourinho venha a dirigir a selecção nos jogos com a Dinamarca e a Islândia (o que, em termos pessoais, me pareceria um erro de um treinador que muito admiro), Madaíl vem activar os mais tacanhos fantasmas do imaginário social e político. Quando uma instituição, neste caso a Federação Portuguesa de Futebol, não consegue desempenhar eficazmente as suas próprias tarefas (a selecção pode muito bem ficar de fora do Europeu de 2012), será que a solução é pôr em marcha a retórica de um sebastianismo requentado? (Sinal inequívoco: no Telejornal da RTP1, a foto de Mourinho surgia com a legenda "O Desejado").
Não somos ingénuos e compreendemos que a federação tenta, desesperadamente, garantir a vitalidade da candidatura ibérica à organização do Mundial de 2018. Fá-lo, pelos vistos, pelas vias mais disparatadas, para mais envolvendo, como mero recurso, a figura de José Mourinho. Dito de outro modo: a classe política (governo + oposição) perdeu todas as oportunidades de desmantelar o delírio de uma candidatura a um Mundial de Futebol por um país em estado de aguda crise económica. Agora, Madaíl pega em armas e desafia os moinhos de vento... Má citação.
Não somos ingénuos e compreendemos que a federação tenta, desesperadamente, garantir a vitalidade da candidatura ibérica à organização do Mundial de 2018. Fá-lo, pelos vistos, pelas vias mais disparatadas, para mais envolvendo, como mero recurso, a figura de José Mourinho. Dito de outro modo: a classe política (governo + oposição) perdeu todas as oportunidades de desmantelar o delírio de uma candidatura a um Mundial de Futebol por um país em estado de aguda crise económica. Agora, Madaíl pega em armas e desafia os moinhos de vento... Má citação.