Continuamos a publicação de uma entrevista com Andy McCluskey, dos OMD, que serviu de base ao artigo “Hoje é cool sar a Orchestral Manouvres In The Dark”, publicada no DN a 9 de Setembro.
Recuemos a Liverpool, em finais dos anos 70. Quão diferentes eram os OMD das outras bandas que então ali surgiam?
Éramos os outsiders. Por várias razões. Por um lado vinhamos do lado errado do rio... (risos). Não viviamos nos bairros mais pobres de Liverpool, mas com as nossas mães na Wirral Peninsula, que é o lado chique do rio... Mas devíamos ser os rapazes mais pobres onde vivíamos... E obiviamente, éramos diferentes porque tocávamos com sintetizadores em vez de guitarras. Éramos os outsiders que tocavam no Eric’s Club.
Tal como o fora o Cavern, na Liverpool dos sessentas, o Eric’s era, em finais de 70, um local influente?
Era o nosso catalisador. Senão houvesse o Eric’s não havia os OMD. Inventámos a banda para tocar nos concertos gratuitos das terças feiras. Pensámos que nos deixariam tocar à nossa maneira.
E como reagiram então as pessoas à diferença?
Havia aí umas 30 pessoas a ver-nos. A maioria eram amigos e família. E os aplausos eram quase nenhuns... Até os nossos amigos não entendiam o que estávamos a fazer. Estavam todos a ouvir bandas de rock progressivo, não acreditavam que o que estávamos a fazer tivesse qualquer interesse.
Entre 1978 e 79 algo a acontecer no Reino Unido, observando-se pelo país fora o surgimento pontual de bandas de música electrónica. Por Sheffield, por Londres... A chegar à rádio e com Gary Numan a atingir o nº 1 com Are Friends Electric? O que fez a diferença?
O que é interessante é que não havia um movimento. E por isso não houve um clic! O Paul [Humphries, dos OMD] teve longas conversas com o Phil Oakey [dos Human League] sobre isto... Em 1978 os Human League ficaram tão surpreendidos ao descobrir os OMD como nós ficámos ao descobri-los a eles. Surpreendidos e nada felizes! (risos) Acho que todos estávamos a trabalhar nas nossas bolhas. Envoltos no que pensávamos que era um vácuo... Estávamos todos a ouvir discos de importação alemães, mas achávamos que seríamos as únicas pessoas em Inglaterra a ouvir aqueles discos. Ficámos surpreendidos quando ouvimos os Human leage, os Cabaret Voltaire. Mas quando ouvimos o Warm Leatherette, dos The Normal, no Eric’s, esse foi o momento em que o Paul e eu olhámos um para o outro pensámos: “há alguém em Inglaterra a fazer o que queríamos fazer!” Então decidimos sair da sala de arrumações da casa da mãe do Paul e subir ao palco...
E em dois anos tinham êxitos...
Sim, foi uma loucura. E ninguém ficou mais surpreendido que nós mesmos. Começámos na sala de arrumações da mãe do Paul, com o que era o pequeno hobbie de dois adolescentes sem dinheiro. Tinhamos uma guitarra baixo. E o Paul construia umas coisas que faziam barulhos, a que nem chamaria de sintetizadores (risos). E não tinhamos sequer teclado. Era um hobbie de sábado à tarde. E veja-se o que aconteceu. Escrevemos o Electricity quando tinhamos 16 anos.
(continua)