Iniciamos hoje a publicação de uma entrevista com Andy McCluskey, dos OMD, que serviu de base ao artigo “Hoje é cool sar a Orchestral Manoeuvres in the Dark”, publicada no DN a 9 de Setembro.
Já se tinham juntando há algum tempo, mas apenas para levar a palco velhas canções. O que os levou a querer fazer, tantos anos depois, um novo álbum?
Uma coisa é aparecermos num palco, a tocar as canções antigas, e toda a gente diz que gosta das velhas canções e blá blá blá... E está tudo feliz. Outra coisa é quando nos atrevemos a fazer um disco novo, que muita gente pode não querer ouvir. Frequentemente porque esses discos costumam ser terríveis. Há muita gente, de quem até sou amigo, que não deveria ter feito novos discos. E porquê? Porque não tinham nada interessante para dizer. Estávamos muito nervosos. E prometemos a nós mesmos que só faríamos um disco se achássemos que seria forte e se sentíssemos que tinhamos algo a dizer como Orchestral Manoeuvres in the Dark.
Teriam gravado o novo álbum History Of Modern sem antes passar pelos palcos?
Foi o primeiro passo. E era o passo mais fácil. Assim como o foi fazer a edição comemorativa do aniversário de Architecture and Morality, recordando a toda a gente os nossos dias mais icónicos... E as coisas de facto partiram daí...
As vossas heranças estão evidentes no som do novo álbum. Há, de resto, uma canção dedicada aos Kraftwerk...
Sem dúvida. Estávamos a pensar em tudo. O principio, o meio, o futuro... Porque começámos, se deveríamos fazer um disco... A grande questão era mesmo saber porque é que um grupo de tipos que estavam a tentar ser o furturo há 30 anos podem fazer numa era pós-modernista... O que é que velhos modernistas podem fazer na era do pós modernismo? O que podemos é na verdade falar de nós mesmos, o que sentimos. E era já chegada a altura de fazermos uma canção sobre os Kraftwerk.
E os Kraftwerk foram, de facto, uma banda determinante na vossa formação como músicos…
Foram os catalizadores. A 11 de Setembro de 1975 eu fui ao Liverpool Empire Theatre e sentei-me no lugar Q36. E o primeiro dia do resto da minha vida chegou quando vi os Kraftwerk a tocar ao vivo. Foi um momento de transformação. Tinha já ouvido o Autobahn na rádio. E adorava. Era uma grade canção mas soava a algo diferente. Tinha duas coisas que eu queria ouvir. Pertenci a uma geração, tal como sucedeu a algumas outras até agora, que usou a música para definir uma percepção da minha idenrtidade e personalidade. E quando vi os Kraftwerk em palco toda a gente tinha cabelos longos... E eles apareceram com cabelos curtos, fatos e gravatas, a tocar o que pareciam uma tabuleiros de chá electrónicos. E senti que aquilo era o meu futuro.
Viu a digressão recente dos Kraftwerk? Com a tecnologia para realizar, finalmente, um sonho antigo do grupo alemão?
Sim, vi... Mas às vezes não devemos desejar que certas coisas aconteçam. Vi-os no Velodrome, em Manchester. E quando falo “neles”, na verdade estou a falar de Ralf [Hutter] e três outros tipos que nem me interessa quem são. É estranho... Com a tecnologia, as imagens, os computadores, o Ralf está gradualmente a fazer com os Kraftwerk o que disse que ia fazer, que era tirar a humanidade e deixar as máquinas. O problema é que, ao tirarmos a humanidade, não deixamos nada aventureiro... Toda a gente falava que os Kraftwerk eram frios, electrónicos, robóticos. Não eram! Em comparação com uns Genesis ou uns Yes, eram talvez um pouco frios e robóticos e limpos. Mas sempre houve ali uma tensão, uma justaposição entre a humanidade e a beleza da melodia (ainda por cima com o Ralf a cantar) e a maquinaria que usavam para produizr as canções. É verdade que chorei quando eles tocaram o Radio Activity. Porque estava nostálgico. Mas quando tocaram o Aerodynamic ou o Vitamin... São apenas pedaços vazios de programação. Não está ali o elemento humano. São umas palavras e uns computadores.
É curioso verificar que, quando falamos com bandas míticas da história pós-punk de Manchester, muitos músicos evocam memórias de um concerto do Sex Pistols que se manifestou como um momento de revelação. Mas no seu caso refere um efeito semelhante num concerto, em Liverpool (onde vivia), com os Kraftwek...
Era a novidade. O que as pessoas diziam dos artistas de blues, na América, do facto de terem influenciado o rock’n’roll, que depois dominou o mundo... Bom, se virmos bem os Kraftwerk são a banda mais importante da música popular dos últimos 40 anos. Se ouvirmos a música de hoje vemos que tudo vai ter às electrónicas, aos computadores, às programações, às percussões eléctricas, seja na pop, na dança, no R&B, na house, no dub... A maioria da música que se faz é mais influenciada pelos Ktafwerk que pelo Howlin’ Wolf ou Muddy Waters.
(continua)