domingo, agosto 22, 2010
Uma sereia (em directo da China)
Este texto foi originalmente publicado na edição de 31 de Julho do DN Gente com o título ‘Em Copenhaga Via Xangai’.
Caminhamos para norte, à beira do cais, com a velha cidadela fortificada à nossa esquerda. Um primeiro percurso de reconhecimento virtual, uns dias antes via Google Earth, tinha mostrado o caminho. O mapa, no guia turístico de Copenhaga, confirmava a rota certa. A morada da Pequena Sereia, o ex-líbris da cidade, deveria ficar, mais metro, menos metro, por aqueles lados...
A dada altura, um aglomerado de gente olhava para rochas dentro de água e para um ecrã de vídeo. Mas sereia, nem vê-la ainda. Ao lado, uma mesa vendia modelos da estátua mais os postalinhos da praxe. Mais à frente, novo autocarro descarregava turistas, cada qual de pequena câmara digital na mão... Mais uns passos e a agitação desaparecia. Mas já passámos pela sereia?
Na verdade não tínhamos passado. Porque a sereia, de facto, nem estava lá.
Acende-se a luz na memória: a Pequena Sereia está em Xangai (China), na Expo... E o ecrã de vídeo, afinal, não é mais que um olhar, em directo, para o interior do Pavi-lhão da Dinamarca onde a estátua mora por estes dias. Vimo-la, assim, em transmissão via satélite, mais aos muitos que, com outra sorte, a viam naquele momento, ao vivo, e à sua frente, em Xangai.
Noutros tempos, quando uma obra viajava para exposições distantes, deixava-se no local vazio uma placa a indicar o sucedido. Na idade da comunicação visual o objecto pode não estar no seu lugar. Mas ninguém se pode queixar de não ter visto a estátua... Nem que em directo num ecrã!