domingo, agosto 22, 2010

Clássica de Verão (2)


Um retrato idílico de memórias de uma cidade, em tempo de Verão, é o que encontramos em Knoxville: Summer of 1915, de Samuel Barber. Composta em 1947, esta obra para voz (na ideia original um soprano) e orquestra parte de um texto em prosa de James Agee, datado de 1938. Para reencontrar este olhar, feito de música, sobre uma paisagem de Verão, podemos recuperar uma aclamada gravação de 1989 protagonizada por Dawn Upshaw, acompanhada pela Orchestra Of St Luke’s, dirigida por David Zinman e que, na altura, chegou mesmo a vencer um Grammy. Entre a discografia de referência de Knoxville: Summer of 1915 conta-se uma outra gravação, de 1968, com Leontyne Price, no álbum Leontyne Sings Barber.

Nas palavras, James Agee recordava as noites de verão em Knoxville, no Tennessee, quando ainda ali vivia. Retratos que carregam uma carga de nostalgia, evocando bairros feitos de casas construídas em finais do século XIX e na alvorada do século XX, naquela hora ao fim do dia em que muitos começam a sentar-se nos alpendres, saboreando a chegada do serão. Samuel Barber (na foto), que usa apenas alguns excertos do texto com fundo autobiográfico de James Agee, encontra pela música uma série de paralelos com a narrativa, um deles o tom espontâneo com que o escritor tinha igualmente redigido as suas palavras, a partitura quase não lhe tendo exigido trabalho de revisão. Com o tempo acabou mesmo considerada como uma das composições mais “americanas” de Samuel Barber. Encomendada por Eleanor Steber, Knoxville: Summer of 1915, a obra foi estrada pela própria cantora em Abril de 1948, com Sergei Koussevitzky à frente da Boston Symphony Orchestra. O compositor, que então estava a trabalhar em Roma, não pode estar presente na estria, tendo-lhe o maestro escrito um telegrama onde dava conta do sucesso que tinha gerado e da “profunda impressão” que deixara entre os espectadores.