O programa Herman 2010 chegou ao fim da sua primeira fase (prometendo regressar em Setembro): é uma boa altura para um balanço — este texto foi publicado no Diário de Notícias (6 de Agosto), com o título 'Uma família televisiva'.
Não creio que seja ofensivo para o (imenso) talento do actor Herman José considerar que o entrevistador Herman José está longe de partilhar as qualidades do seu “duplo”. A meu ver, há muitos anos que os programas em que essas tarefas se cruzam são inevitavelmente desequilibrados. E incluo nessa lista o Herman 2010 (RTP1), cuja primeira série terminou no passado domingo.
Não quero, porém, favorecer qualquer tipo de fundamentalismo. Afinal de contas, ninguém possui uma chave universal para construir um diálogo televisivamente interessante, sobretudo numa conjuntura em que proliferam discursos formatados que mais não procuram além de renovar, todos os dias, as mesmas visões simplistas de todas as actividades, a começar pelo futebol (“o resultado foi justo ou não?”). Este é também o tempo em que triunfou um novo conceito (?) de entrevista, não como uma arte sofisticada de respeitar a complexidade do outro, mas sim como um rol de disparates mais ou menos obscenos a que, para mais, o entrevistado deve ceder e aceder com um sorriso complacente. Num tempo assim, Herman 2010, apesar de tudo, faz a diferença.
O programa de sábado [31 de Julho], precisamente, terá sido dos melhores. E não parece possível dissociar a sua fluência e eficácia do simples facto de Herman ter decidido revisitar algumas das suas próprias memórias, convidando colaboradores tão importantes como Maria Rueff [foto] e Cândido Mota. Para utilizar a expressão de Rueff, há, de facto, uma “família Herman” que tem marcado de modo indelével as últimas três décadas da televisão em Portugal.
Assim, foi possível reencontrar a espantosa versatilidade dramática de Maria Rueff, por certo uma das poucas actrizes do presente que nos remete para a herança multifacetada de Laura Alves (um monstro adormecido na nossa memória colectiva): a recordação da dupla “Nelo e Idália”, falando sobre a obra de Manoel de Oliveira, foi genial. Além do mais, os sketches com Manuel Marques ilustraram, uma vez mais, a eloquente subtileza de um humor televisivo realmente pensado, escrito e encenado para o meio que o difunde.
Não creio que seja ofensivo para o (imenso) talento do actor Herman José considerar que o entrevistador Herman José está longe de partilhar as qualidades do seu “duplo”. A meu ver, há muitos anos que os programas em que essas tarefas se cruzam são inevitavelmente desequilibrados. E incluo nessa lista o Herman 2010 (RTP1), cuja primeira série terminou no passado domingo.
Não quero, porém, favorecer qualquer tipo de fundamentalismo. Afinal de contas, ninguém possui uma chave universal para construir um diálogo televisivamente interessante, sobretudo numa conjuntura em que proliferam discursos formatados que mais não procuram além de renovar, todos os dias, as mesmas visões simplistas de todas as actividades, a começar pelo futebol (“o resultado foi justo ou não?”). Este é também o tempo em que triunfou um novo conceito (?) de entrevista, não como uma arte sofisticada de respeitar a complexidade do outro, mas sim como um rol de disparates mais ou menos obscenos a que, para mais, o entrevistado deve ceder e aceder com um sorriso complacente. Num tempo assim, Herman 2010, apesar de tudo, faz a diferença.
O programa de sábado [31 de Julho], precisamente, terá sido dos melhores. E não parece possível dissociar a sua fluência e eficácia do simples facto de Herman ter decidido revisitar algumas das suas próprias memórias, convidando colaboradores tão importantes como Maria Rueff [foto] e Cândido Mota. Para utilizar a expressão de Rueff, há, de facto, uma “família Herman” que tem marcado de modo indelével as últimas três décadas da televisão em Portugal.
Assim, foi possível reencontrar a espantosa versatilidade dramática de Maria Rueff, por certo uma das poucas actrizes do presente que nos remete para a herança multifacetada de Laura Alves (um monstro adormecido na nossa memória colectiva): a recordação da dupla “Nelo e Idália”, falando sobre a obra de Manoel de Oliveira, foi genial. Além do mais, os sketches com Manuel Marques ilustraram, uma vez mais, a eloquente subtileza de um humor televisivo realmente pensado, escrito e encenado para o meio que o difunde.