No seu novo filme, Salt, Angelina Jolie interpreta uma agente da CIA suspeita de colaborar com a Rússia — este é um esboço de retrato da actriz, publicado no Diário de Notícias (18 de Agosto), com o título 'A mulher que quis ser James Bond'.
Há poucos meses, Angelina Jolie esteve em Veneza para filmar The Tourist, um drama em que contracena com Johnny Depp. Como é habitual em situações de rodagem, a família, Brad Pitt e os seis filhos do casal, viajou até Itália, instalando-se com armas e bagagens (incluindo os professores das crianças). É um programa de vida que ambos tentam cumprir metodicamente: quando um deles tem um filme para fazer, o outro está livre para cuidar dos filhos.
Nesse ambiente, Jolie deu uma entrevista a Rich Cohen, publicada na edição de Agosto da revista Vanity Fair, em que esclarece a origem do seu novíssimo filme de acção, o espectacular Salt onde, sob a direcção de Philip Noyce, assume a personagem de Evelyn Salt, uma agente da CIA acusada de trabalhar para os russos. Tudo começou com um telefonema de Amy Pascal, co-presidente da Sony Pictures, perguntando-lhe se gostaria de interpretar uma personagem tipo “Bond girl”. A resposta é um pequeno tratado de ironia feminina: “Não, não me sinto confortável com isso, mas gostava de interpretar Bond.”
Talvez esteja aí, nessa capacidade de desafiar os clichés dos próprios papéis que interpreta, o segredo de uma carreira que está muito longe de poder ser reduzida ao mundo feérico de Lara Croft (que Jolie interpretou duas vezes, em filmes de 2001 e 2003) ou às peripécias mais ou menos anedóticas com que a imprensa cor de rosa vai retratando o casal Brad Pitt/Angelina Jolie (consagrado com o cognome de “Brangelina”).
Afinal de contas, estamos a falar de uma actriz distinguida com um Oscar de melhor actriz secundária, em Vida Interrompida, dirigido por James Mangold em 1999, e ainda três Globos de Ouro: um pelo mesmo filme, e mais dois por interpretações televisivas (melhor actriz secundária na mini-série George Wallace e melhor actriz no telefilme Gia, respectivamente de 1997 e 1998).
Do mesmo modo que quis interpretar uma variação feminina de James Bond, Jolie tem procurado não se deixar cristalizar em nenhum modelo de personagem. Assim, por um lado, percebeu que a imagem “juvenil” de Lara Croft deixou de ser compatível com o desenvolvimento do seu trabalho e também com a sua idade (fez 35 anos no dia 4 de Junho); por outro lado, tem apostado em constantes ziguezagues, contrariando qualquer fixação dramática ou espectacular: por exemplo, depois da comédia de acção Mr. & Mrs. Smith (2005), em que contracenava com Brad Pitt (foi aí que se conheceram), optou por dois papéis intensamente dramáticos, em O Bom Pastor (2006), um thriller político sob a direcção de Robert de Niro, e Um Coração Poderoso (2007), de Michael Winterbottom, assumindo a personagem trágica de Mariane Pearl, viúva do jornalista americano Daniel Pearl, raptado e assassinado por terroristas no Paquistão.
Como Angelina Jolie diz à Vanity Fair, lendo as manchetes de algumas revistas, a sua vida com Brad Pitt esgota-se num ciclo monótono: “Vamos separar-nos, estou grávida, vamos casar...” Tudo isso pode acontecer, claro, mas não basta para definir uma actriz que, para mais, concilia o facto de ser uma verdadeira estrela planetária com as funções de embaixadora do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. Não basta ser James Bond para fazer tanto em tão pouco tempo.
Há poucos meses, Angelina Jolie esteve em Veneza para filmar The Tourist, um drama em que contracena com Johnny Depp. Como é habitual em situações de rodagem, a família, Brad Pitt e os seis filhos do casal, viajou até Itália, instalando-se com armas e bagagens (incluindo os professores das crianças). É um programa de vida que ambos tentam cumprir metodicamente: quando um deles tem um filme para fazer, o outro está livre para cuidar dos filhos.
Nesse ambiente, Jolie deu uma entrevista a Rich Cohen, publicada na edição de Agosto da revista Vanity Fair, em que esclarece a origem do seu novíssimo filme de acção, o espectacular Salt onde, sob a direcção de Philip Noyce, assume a personagem de Evelyn Salt, uma agente da CIA acusada de trabalhar para os russos. Tudo começou com um telefonema de Amy Pascal, co-presidente da Sony Pictures, perguntando-lhe se gostaria de interpretar uma personagem tipo “Bond girl”. A resposta é um pequeno tratado de ironia feminina: “Não, não me sinto confortável com isso, mas gostava de interpretar Bond.”
Talvez esteja aí, nessa capacidade de desafiar os clichés dos próprios papéis que interpreta, o segredo de uma carreira que está muito longe de poder ser reduzida ao mundo feérico de Lara Croft (que Jolie interpretou duas vezes, em filmes de 2001 e 2003) ou às peripécias mais ou menos anedóticas com que a imprensa cor de rosa vai retratando o casal Brad Pitt/Angelina Jolie (consagrado com o cognome de “Brangelina”).
Afinal de contas, estamos a falar de uma actriz distinguida com um Oscar de melhor actriz secundária, em Vida Interrompida, dirigido por James Mangold em 1999, e ainda três Globos de Ouro: um pelo mesmo filme, e mais dois por interpretações televisivas (melhor actriz secundária na mini-série George Wallace e melhor actriz no telefilme Gia, respectivamente de 1997 e 1998).
Do mesmo modo que quis interpretar uma variação feminina de James Bond, Jolie tem procurado não se deixar cristalizar em nenhum modelo de personagem. Assim, por um lado, percebeu que a imagem “juvenil” de Lara Croft deixou de ser compatível com o desenvolvimento do seu trabalho e também com a sua idade (fez 35 anos no dia 4 de Junho); por outro lado, tem apostado em constantes ziguezagues, contrariando qualquer fixação dramática ou espectacular: por exemplo, depois da comédia de acção Mr. & Mrs. Smith (2005), em que contracenava com Brad Pitt (foi aí que se conheceram), optou por dois papéis intensamente dramáticos, em O Bom Pastor (2006), um thriller político sob a direcção de Robert de Niro, e Um Coração Poderoso (2007), de Michael Winterbottom, assumindo a personagem trágica de Mariane Pearl, viúva do jornalista americano Daniel Pearl, raptado e assassinado por terroristas no Paquistão.
Como Angelina Jolie diz à Vanity Fair, lendo as manchetes de algumas revistas, a sua vida com Brad Pitt esgota-se num ciclo monótono: “Vamos separar-nos, estou grávida, vamos casar...” Tudo isso pode acontecer, claro, mas não basta para definir uma actriz que, para mais, concilia o facto de ser uma verdadeira estrela planetária com as funções de embaixadora do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. Não basta ser James Bond para fazer tanto em tão pouco tempo.