terça-feira, agosto 03, 2010

Afeganistão, aqui e agora

Eis alguns extractos do texto de apresentação da edição da revista Time, com data de 9 de Agosto, pelo seu editor executivo Richard Stengel:

>>> "A nossa capa desta semana é poderosa, chocante e perturbante. É o retrato de Aisha, uma tímida mulher afegã de 18 anos que foi condenada por um comandante Taliban ao corte do seu nariz e orelhas por tentar fugir dos parentes que a maltratavam."
>>> "Em última análise, senti que a imagem é uma janela para a realidade do que está a acontecer — e o que pode acontecer — numa guerra que a todos afecta e envolve. Prefiro confrontar os leitores com o tratamento das mulheres pelos Taliban do que ignorar esse facto."
>>> "Não publicamos esta história ou mostramos esta imagem para mostrar apoio ou oposição ao esforço de guerra dos EUA. Fazêmo-lo para dar a ver o que de facto está a acontecer no terreno."


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O extenso, detalhado e contundente dossier da Time — e, muito em particular, as fotografias assinadas por Jodi Bieber — constitui um caso modelar de um jornalismo que resiste à histeria de raiz televisiva que domina, não apenas sectores consideráveis da televisão, mas também muitas zonas do jornalismo em papel. O seu impacto é tanto maior quanto nos permite perceber duas coisas rudimentares e inalienáveis:
1. a questão (jornalística) de fundo não está em produzir mais ruído ou favorecer as "polémicas" mais agitadas, mas sim em lidar com a complexidade dos factos no terreno, apostando em respeitá-la e construir informação a partir do seu conhecimento;
2. os factos não contam automaticamente uma história: informar é sempre escolher — e assumir as responsabilidades dessa escolha.