terça-feira, julho 13, 2010
Novas edições:
M.I.A., Maya
M.I.A.
“Maya”
XL Recordings / Popstock
4 / 5
Depois de ter merecido um lugar de destaque no panorama da música dos anos zero na estreia com Arular (2005), de ter cimentado o estatuto com Kala (2007) e depois decretado um estatuto de independêencia ao abrir a sua própria editora (na qual a primeira edição não foi mais senão a banda sonora de Slumdog Millionaire, onde também participou), M.I.A. optou, ao terceiro álbum, por jogar em tudo menos pelo seguro… Um primeiro olhar pela capa de Maya abre logo a porta para um programa de intenções que, depois, a música leva mais além. Ofuscada sob uma multidão de barras de leitura do YouTube, M.I.A. convida-nos a descobrir em Maya um olhar político sobre o mundo dos nossos dias, concentrando um dos focos da sua atenção sobre as verdades da sociedade da informação global em que vivemos, questionando uma vez mais o mundo ao seu redor, confirmando uma atitude de saudável inquietude que já lhe era de resto conhecida. Mas as maiores surpresas do disco não se olham no artwork nem adivinham entre uma agenda temática que sublinha nova expressão de um espírito crítico. É na música que M.I.A. uma vez mais surpreende. E, desta vez, vai mesmo dividir opiniões. Apesar de manter (pontualmente) a já antiga colaboração com Diplo, daí resultando as raras frestas de luminosidade e cor pop que o álbum revela, Maya segue preferencialmente caminhos menos esperados, talhando acontecimentos entre fragmentos, ruídos, electrónicas e electricidade, a angulosidade das formas acabando por servir primordialmente a voz (e as palavras). O eventual desconforto inicial transforma-se gradualmente num espaço concerto, os jogos entre as formas e os significados sugerindo consistência numa construção que, afinal, se revela mais sólida que o primeiro encontro poderia sugerir… Não é um disco fácil. Em nada é celebratório ou festivo. Traduz um olhar sobre o presente que, antes da rendição a um desencanto, opta pela capacidade de usar um certo poder que, desde há muito, a cultura popular pode conferir ao músico sob os holofotes das atenções (dos media, dos admiradores)… Conhenhamos que, contra muitos exemplos de má utilização desse mesmo poder em tantos outros casos da música dos nossos dias, M.I.A. propõe em Maya um manifesto em tudo coerente e desafiante. E, uma vez mais, dá-nos um grande disco!