Janelle Monáe
“The Archandroid"
Bad Boy Records / Warner
5 / 5
38 anos depois de Ziggy Stardust, o mundo acolhe outra visita. Não vem de outro mundo, antes de um outro tempo (em concreto, como o booklet deixa claro, do ano 2719). Foi enviada a um outro tempo (o nosso) e agora (no futuro), uma andróide vive com material genético clonado da figura de quem se fala… Chama-se Janelle Monáe e estes são ecos da sua história… Com evidentes temperos de ficção científica, juntando por um lado a figura referencial do Ziggy Styardust de David Bowie e, por outro, tomando como motor maior de inspiração no clássico Metropolis, de Fritz Lang, Janelle Monáe acaba de apresentar no seu álbum de estreia não apenas o mais sólido herdeiro recente da antiga tradição dos discos conceptuais, como nele projecta uma imensa variedade de ideias e formas musicais, conseguindo da diversidade encontrar uma espantosa unidade. Apresentado como reunindo as partes II e III de uma suite que teve primeira parte no EP The Metropolis Suite, de 2007, o álbum The Archandroid é uma monumental visão de 70 minutos em duas partes (cada qual com uma introdução orquestral de tez sinfonista) onde se cruzam heranças tão distintas quanto as da pop animada a viço funk de um Michael Jackson, a simplicidade de uma trova folk, a libertação sonhadora do psicadelismo, o charme das bandas sonoras clássicas de James Bond ou a elegância melodista de um Debussy. De resto, e ciente de que a cultura pop vive essencialmente da assimilação de experiências com as quais contactámos, Janelle Monáe faz questão de deixar claras (no booklet) quais as fontes de inspiração de cada canção, referindo aí personagens de ficção como a Princesa Leia ou o Golem, figuras reais como Salvador Dali ou Arthur Lee, imagens de filmes como Purple Rain ou Mary Poppins ou a música de Stevie Wonder ou Rachmaninov. Factos ou ficções, estas citações fazem parte do código genético de uma obra pop que reflectem, afinal, toda uma vivência e, no fundo, uma identidade. Uma ideia, e podemos dizer mesmo uma narrativa, evolui ao longo de canções que vincam o carácter cinematográfico de um álbum que toma o Metropolis de Friz Lang como código genético primordial (a própira imagem que acompanha o disco sublinhando essas referências). Com colaboradores como Big Boi (que partilha o protagonismo no irresistível Tightrope), Saul Williams ou Kevin Barnes (dos Of Montreal, que brilha em Make The Bus), Janelle Monáe apresenta em The Archandroid uma das mais surpreendentes visões que a música popular nos tem dado a conhecer, num alinhamento capaz dessa rara proeza que é a de somar ousadia na definição da visão do que é a música a um alinhamento onde não faltam potenciais êxitos pop. Sem dúvida, um daqueles discos a registar na história do nosso tempo.
“The Archandroid"
Bad Boy Records / Warner
5 / 5
38 anos depois de Ziggy Stardust, o mundo acolhe outra visita. Não vem de outro mundo, antes de um outro tempo (em concreto, como o booklet deixa claro, do ano 2719). Foi enviada a um outro tempo (o nosso) e agora (no futuro), uma andróide vive com material genético clonado da figura de quem se fala… Chama-se Janelle Monáe e estes são ecos da sua história… Com evidentes temperos de ficção científica, juntando por um lado a figura referencial do Ziggy Styardust de David Bowie e, por outro, tomando como motor maior de inspiração no clássico Metropolis, de Fritz Lang, Janelle Monáe acaba de apresentar no seu álbum de estreia não apenas o mais sólido herdeiro recente da antiga tradição dos discos conceptuais, como nele projecta uma imensa variedade de ideias e formas musicais, conseguindo da diversidade encontrar uma espantosa unidade. Apresentado como reunindo as partes II e III de uma suite que teve primeira parte no EP The Metropolis Suite, de 2007, o álbum The Archandroid é uma monumental visão de 70 minutos em duas partes (cada qual com uma introdução orquestral de tez sinfonista) onde se cruzam heranças tão distintas quanto as da pop animada a viço funk de um Michael Jackson, a simplicidade de uma trova folk, a libertação sonhadora do psicadelismo, o charme das bandas sonoras clássicas de James Bond ou a elegância melodista de um Debussy. De resto, e ciente de que a cultura pop vive essencialmente da assimilação de experiências com as quais contactámos, Janelle Monáe faz questão de deixar claras (no booklet) quais as fontes de inspiração de cada canção, referindo aí personagens de ficção como a Princesa Leia ou o Golem, figuras reais como Salvador Dali ou Arthur Lee, imagens de filmes como Purple Rain ou Mary Poppins ou a música de Stevie Wonder ou Rachmaninov. Factos ou ficções, estas citações fazem parte do código genético de uma obra pop que reflectem, afinal, toda uma vivência e, no fundo, uma identidade. Uma ideia, e podemos dizer mesmo uma narrativa, evolui ao longo de canções que vincam o carácter cinematográfico de um álbum que toma o Metropolis de Friz Lang como código genético primordial (a própira imagem que acompanha o disco sublinhando essas referências). Com colaboradores como Big Boi (que partilha o protagonismo no irresistível Tightrope), Saul Williams ou Kevin Barnes (dos Of Montreal, que brilha em Make The Bus), Janelle Monáe apresenta em The Archandroid uma das mais surpreendentes visões que a música popular nos tem dado a conhecer, num alinhamento capaz dessa rara proeza que é a de somar ousadia na definição da visão do que é a música a um alinhamento onde não faltam potenciais êxitos pop. Sem dúvida, um daqueles discos a registar na história do nosso tempo.