sexta-feira, julho 09, 2010
Em conversa: Scissor Sisters (3)
Continuamos a publicação de uma entrevista com Jake Shears, dos Scissor Sisters, a propósito da edição do seu terceiro álbum, Night Work, e que serviu de base ao artigo ‘Como Vencer Uma Crise Criativa’ publicado na edição de 26 de Junho do DN Gente.
Os Scissor Sisters tornaram-se ícones da comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgénero). Mas ao mesmo tempo são estrelas pop de dimensão mainstream…
Eu na verdade não estabeleço diferenças entre o que possa ser música gay ou música straight. Há pontos de vida na música, claro. A música reflecte-os numa estética, naturalmente. Informa-nos sobre aquilo de que estamos a falar e sobre um conjunto de experiências. Mas é uma linguagem universal e todos se podem identificar com ela. A música não se destina apenas para os que se tiveram experiências idênticas. Sinto que a porta do armário tende sempre a fechar-se e estamos constantemente a voltar a abri-la.
O que diz do fenómeno Lady Gaga?
É uma verdadeira artista queer. E é por isso que o público gay se identifica com ela. É muito bom ver uma mulher, meio estranha, a mexer daquela forma nas consciências. É mesmo inspiradora! E espero que, algueres, gosto pensar que ajudámos a abrir a porta por onde ela acabou por entrar.
A música pop pode ter uma força política?
Creio que a música pop pode ter uma enorme influência nesse aspecto. E por isso defendo a capa do nosso álbum... O que um homem straight que goste da banda vai pensar ao ver esta imagem?... A partir do momento que seja OK lidar com esta imagem, se for cool, esse homem não mais vai ter esse tipo de problemas.
Sente diferenças na América de hoje, sob a administração Obama?
Os tempos estão em mudança. Temos um novo presidente e vivemos tempos entusiasmantes. Ao mesmo tempo há mais choques e tensão que nunca. Mas são tempos entusiasmantes aqueles em que vivemos. Até aqui as coisas não foram fáceis para ele, mas neste momento já começamos a ver o que tem feito de bom. Autorizou direitos de visita a casais gay em doença, por exemplo...
Mas ao mesmo tempo a Califórnia votou a Proposta 8 que fez recuar direitos já conquistados…
Isso foi mesmo mau. E cheguei até a participar em marchas, protestando. Mas não me senti impotente... Foi um recuo... Mas iremos lá. Vai é levar mais tempo.
A América gosta dos Scissor Sisters?
A percepção era um pouca a de que não éramos um grande fenómeno na América, ao passo que éramos já muito populares por todo o resto do mundo. Mas acho que vendemos meio milhão de discos na América... São muitos discos... E temos dado bons concertos... Nunca me senti mal na América. Não seremos pop stars, mas isso era a última coisa que queria ser na América! Gosto do que temos neste momento... Assim consigo viver uma vida normal.