quinta-feira, julho 08, 2010

Em conversa: Scissor Sisters (2)


Continuamos a publicação de uma entrevista com Jake Shears, dos Scissor Sisters, a propósito da edição do seu terceiro álbum, Night Work, e que serviu de base ao artigo ‘Como Vencer Uma Crise Criativa’ publicado na edição de 26 de Junho do DN Gente.

Pelas canções de Night Work passa uma ideia de festa. Mas há nelas também uma outra face, talvez mais sombria…
Temos essas duas facetas. O meu gosto pessoal aponta facilmente ao mais sinistro e grotesco. E há um equilíbrio que se atinge com o facto de ser também uma pessoa feliz e positiva. E esse equilíbrio reflecte-se depiois na banda. E foi também por isso que escolhemos uma imagem de Robert Mapplethorpe para a campanha deste disco. Tive de lutar por aquela foto! Assim que a vi sabia que aquela foto seria a capa do disco. Um dos meus pensamentos ao encarar aquela foto foi o de que, olhando-a, não é fácil dizer desde logo de quando é. De que época é? Pode ser Nova Iorque em finais dos anos 70 e inícios dos 80... Que representa uma fase muito importante na vida e cultura gay da cidade. Mas depois veio a sida e a festa acabou... Esse tempo fascina-me, e gosto de tentar encontrar as suas repercussões nos dias de hoje. E a questão que gostaria de colocar é o que teria acontecido a toda aquela música que então estava ali a acontecer e para onde poderia ter iso aquela festa? Mapplethorpe, como pessoa, representa para mim os finais de 70 e inícios dos 80 em Nova Iorque. Ele representa issso. Mas também o lado mais sombrio, o hedonismo...

O disco procura, assim, caminhos para uma história que ali acabou interrompida?
Sim, o que teria acontecido... Daí eu ter querido, com este álbum, recuperar aquele momento e levá-lo em frente. Ver para onde as coisas poderiam ter caminhado.

Dizia que teve de lutar pela imagem que usaram na capa do disco…
Estive a ler sobre a vida do Maplethorpe, e reparei numa história ligada com uma foto dele que foi usada numa capa de um outro álbum. Falo do Horeses, da Patti Smith. Quando o Clive Davis viu a capa teve um ataque cardíaco. Dizia que nenhuma mulher devia aparecer na capa de um disco com uma camisa de homem vestida. Ela lutou pela imagem, que acabou por ser mesmo a capa de Horses. E é hoje recordada como uma das melhores capas de sempre. Ou seja, se acreditamos numa coisa, temos de lutar por ela. Não quero tomar decisões afectadas pelo medo.

Este disco era importante para a definição do futuro da banda?
Penso que somos “the real deal”. Imagino-nos a fazer mutos mais discos no futuro. A desafiarmo-nos a nós mesmos, a seguir direcções diferentes... Estamos aqui para ficar. Temos uma banda única. Somos nós. Falamos que somos os Scissor Sisters e as pessoas sabem o que somos. Cresci um pouco com esse sonho. Quando se falava de uns Depeche Mode ou Red Hot Chilli Peppers sabiamos do que estávamos a falar. O mesmo com os Daft Punk. Bandas com um som único. O meu objectivo como banda é ter o nosso mundo.
(continua)