Como entrevistar alguém, tão visto e tão (des)conhecido, como José Mourinho? A pior solução é sempre a repetição retórica dos clichés — este texto foi publicado no Diário de Notícias (23 de Julho), com o título 'O "destino" de José Mourinho'.
A entrevista de José Mourinho a Joaquim Sousa Martins (TVI) foi um acontecimento deprimente. Desde logo, por razões especificamente jornalísticas. De facto, entrevistar alguém, para mais com um discurso tão elaborado e motivador como Mourinho, não é o mesmo que fazer uma caricatura mais ou menos pitoresca, apenas para “confirmar” os clichés que circulam no espaço televisivo. Mourinho teve até a serenidade de tocar em algumas questões futebolísticas que, por vezes, são tratadas como um mistério intocável. Por exemplo: o treinador do Real Madrid chamou a atenção para o facto de um jogador como Cristiano Ronaldo dever encaixar num sistema (futebolístico) em que se sinta bem, não contrariando as suas especificidades como jogador.
Ora, o problema é que não só se falou pouco de futebol, como prevaleceu a ideologia da imprensa cor de rosa, a começar por esse lugar-comum segundo o qual o entrevistado está ali para confirmar um “destino” de cujo sentido é o obrigatório locutor. Quando foi o momento em que soube que ia ser treinador de futebol? Ou esse extraordinário chavão que consiste em evocar uma grande emoção, perguntando: o que é que sentiste naquele momento? Sigmund Freud escreveu milhares de páginas sobre a dificuldade de o dizer, mas agora, em televisão, isso é suposto ser uma revelação linear e, para mais, dita pelo próprio...
Claro que não devemos fulanizar o que está em jogo. A incapacidade de escuta de Sousa Martins (não poucas vezes acrescentando às perguntas as respostas que esperava do seu interlocutor...) não deve ser equacionada como um problema pessoal. Ele limita-se a ser uma emanação de um modelo triunfante de “jornalismo” em que se julga (ou quer fazer julgar) que conversar com alguém em frente de uma câmara de televisão é o mesmo que estar à mesa do café a acumular considerações mais ou menos ligeiras e inconsequentes... Neste caso, com um detalhe perverso: será que pelo facto de tratar Mourinho por “tu”, Sousa Martins acredita que isso produz algo de automaticamente notável e televisivamente pertinente?
A entrevista de José Mourinho a Joaquim Sousa Martins (TVI) foi um acontecimento deprimente. Desde logo, por razões especificamente jornalísticas. De facto, entrevistar alguém, para mais com um discurso tão elaborado e motivador como Mourinho, não é o mesmo que fazer uma caricatura mais ou menos pitoresca, apenas para “confirmar” os clichés que circulam no espaço televisivo. Mourinho teve até a serenidade de tocar em algumas questões futebolísticas que, por vezes, são tratadas como um mistério intocável. Por exemplo: o treinador do Real Madrid chamou a atenção para o facto de um jogador como Cristiano Ronaldo dever encaixar num sistema (futebolístico) em que se sinta bem, não contrariando as suas especificidades como jogador.
Ora, o problema é que não só se falou pouco de futebol, como prevaleceu a ideologia da imprensa cor de rosa, a começar por esse lugar-comum segundo o qual o entrevistado está ali para confirmar um “destino” de cujo sentido é o obrigatório locutor. Quando foi o momento em que soube que ia ser treinador de futebol? Ou esse extraordinário chavão que consiste em evocar uma grande emoção, perguntando: o que é que sentiste naquele momento? Sigmund Freud escreveu milhares de páginas sobre a dificuldade de o dizer, mas agora, em televisão, isso é suposto ser uma revelação linear e, para mais, dita pelo próprio...
Claro que não devemos fulanizar o que está em jogo. A incapacidade de escuta de Sousa Martins (não poucas vezes acrescentando às perguntas as respostas que esperava do seu interlocutor...) não deve ser equacionada como um problema pessoal. Ele limita-se a ser uma emanação de um modelo triunfante de “jornalismo” em que se julga (ou quer fazer julgar) que conversar com alguém em frente de uma câmara de televisão é o mesmo que estar à mesa do café a acumular considerações mais ou menos ligeiras e inconsequentes... Neste caso, com um detalhe perverso: será que pelo facto de tratar Mourinho por “tu”, Sousa Martins acredita que isso produz algo de automaticamente notável e televisivamente pertinente?