
A entrevista de José Mourinho a Joaquim Sousa Martins (TVI) foi um acontecimento deprimente. Desde logo, por razões especificamente jornalísticas. De facto, entrevistar alguém, para mais com um discurso tão elaborado e motivador como Mourinho, não é o mesmo que fazer uma caricatura mais ou menos pitoresca, apenas para “confirmar” os clichés que circulam no espaço televisivo. Mourinho teve até a serenidade de tocar em algumas questões futebolísticas que, por vezes, são tratadas como um mistério intocável. Por exemplo: o treinador do Real Madrid chamou a atenção para o facto de um jogador como Cristiano Ronaldo dever encaixar num sistema (futebolístico) em que se sinta bem, não contrariando as suas especificidades como jogador.
Ora, o problema é que não só se falou pouco de futebol, como prevaleceu a ideologia da imprensa cor de rosa, a começar por esse lugar-comum segundo o qual o entrevistado está ali para confirmar um “destino” de cujo sentido é o obrigatório locutor. Quando foi o momento em que soube que ia ser treinador de futebol? Ou esse extraordinário chavão que consiste em evocar uma grande emoção, perguntando: o que é que sentiste naquele momento? Sigmund Freud escreveu milhares de páginas sobre a dificuldade de o dizer, mas agora, em televisão, isso é suposto ser uma revelação linear e, para mais, dita pelo próprio...
