A passagem dos 150 anos do nascimento de Mahler foi mote para o lançamento de uma série de discos, entre novas gravações e antologias recuperando registos históricos. Entre as novas gravações conta-se uma estreia em disco. Não de uma obra de Mahler, mas da primeira gravação dos arranjos que este criou para a Sinfonia nº 9 de Beethoven e que, na época, levantaram clamores de horror junto da crítica. Kristjan Järvi (na imagem) dirige aqui a Tonkünstler-Orchester Niederösterreich, coro e solistas numa gravação que nos permite, sobretudo, conhecer a forma como Mahler reflectia sobre a música de outras épocas, o seu trabalho como compositor colocando-se assim ao serviço do seu labor enquanto maestro.
Uma citação do próprio Mahler, datada de 1900, abre o texto do booklet desta edição, colocando-nos perante a questão que o compositor então tentou resolver. “As sinfonias de Beethoven colocam um problema que é simplesmente de impossível resolução por um maestro vulgar”, disse então, justificando assim um ponto de partida. E apresentava uma resposta: “Precisam de ser retrabalhadas”. Dizia-o concretamente dadas as diferenças de dimensão da orquestra desde os dias de Beethoven, a “proporção dos instrumentos” parecendo-lhe reflexão fundamental para as abordar como maestro. Mahler juntou então alguns instrumentos, alargou a extensão de outros e expandiu partes para metais. Adetalhes na interpretação e chegou mesmo a suprimir alguns compassos (apagando apenas repetições). Mahler usou esta sua abordagem à Sinfonia Nº9 de Beethoven em algumas das dez ocasiões em que a dirigiu como maestro. Em concreto a partir de 1900… O público, como recorda o booklet, vibrou com a adaptação de Mahler. Já a crítica reagiu no sentido oposto, chegando mesmo a usar palavras como “aberração” ou “barbaridade”… Mahler, que havia baseado a sua abordagem numa reflexão de Richard Wagner, sentiu-se incompreendido.
Cem anos depois o cenário que acolhe o reencontro com esta visão é outro. As interpretações de época dão-nos a conhecer a música Beethoven como seria escutada no seu tempo… Ganhando assim os arranjos de Mahler um sentido de retrato de como na sua época procurou então escutar a música de um outro tempo. A mais recente edição crítica da obra de Mahler, pela Gustav Mahler Society, inclui esta adaptação. A gravação, dirigida por Järvi revela, na leitura proposta por Mahler, uma abordagem menos interessante que outras abordagens igualmente desafiantes (recorde-se, por exemplo, a proposta por John Eliott Gardiner no seu ciclo editado pela Archiv em 1994). Mas ganha pelo facto de nos abrir uma janela sobre a memória de um maestro que, perante uma dúvida maior, não se esqueceu que era também um compositor.
Cem anos depois o cenário que acolhe o reencontro com esta visão é outro. As interpretações de época dão-nos a conhecer a música Beethoven como seria escutada no seu tempo… Ganhando assim os arranjos de Mahler um sentido de retrato de como na sua época procurou então escutar a música de um outro tempo. A mais recente edição crítica da obra de Mahler, pela Gustav Mahler Society, inclui esta adaptação. A gravação, dirigida por Järvi revela, na leitura proposta por Mahler, uma abordagem menos interessante que outras abordagens igualmente desafiantes (recorde-se, por exemplo, a proposta por John Eliott Gardiner no seu ciclo editado pela Archiv em 1994). Mas ganha pelo facto de nos abrir uma janela sobre a memória de um maestro que, perante uma dúvida maior, não se esqueceu que era também um compositor.