
A passagem dos 150 anos do nascimento de Mahler foi mote para o lançamento de uma série de discos, entre novas gravações e antologias recuperando registos históricos. Entre as novas gravações conta-se uma estreia em disco. Não de uma obra de Mahler, mas da primeira gravação dos arranjos que este criou para a Sinfonia nº 9 de Beethoven e que, na época, levantaram clamores de horror junto da crítica. Kristjan Järvi (na imagem) dirige aqui a Tonkünstler-Orchester Niederösterreich, coro e solistas numa gravação que nos permite, sobretudo, conhecer a forma como Mahler reflectia sobre a música de outras épocas, o seu trabalho como compositor colocando-se assim ao serviço do seu labor enquanto maestro.


Cem anos depois o cenário que acolhe o reencontro com esta visão é outro. As interpretações de época dão-nos a conhecer a música Beethoven como seria escutada no seu tempo… Ganhando assim os arranjos de Mahler um sentido de retrato de como na sua época procurou então escutar a música de um outro tempo. A mais recente edição crítica da obra de Mahler, pela Gustav Mahler Society, inclui esta adaptação. A gravação, dirigida por Järvi revela, na leitura proposta por Mahler, uma abordagem menos interessante que outras abordagens igualmente desafiantes (recorde-se, por exemplo, a proposta por John Eliott Gardiner no seu ciclo editado pela Archiv em 1994). Mas ganha pelo facto de nos abrir uma janela sobre a memória de um maestro que, perante uma dúvida maior, não se esqueceu que era também um compositor.