Em finais dos anos 80, depois de completada a trilogia das óperas-retrato que haviam colocado o nome de Philip Glass na linha da frente das atenções do panorama musical global, o compositor experimentava novos recursos instrumentais e novas formas. Em busca da linguagem da sinfonia, que apenas abordaria nos anos 90 (a sua Sinfonia nº 1, baseada no clássico Low, de David Bowie, data de 1993), Philip Glass apresentou entre 1987 e 89 três obras para orquestra centradas, como as óperas o haviam sido, numa noção de retrato. Não de figuras. Mas de espaços. Acontecimentos. E lugares. Foram elas The Light (1987), The Canyon (1988) e Itaipu (1989). O trabalho nesta última levou Glass a visitar a barragem (então ainda em construção), a sua grandiosidade inspirando uma celebração, por um lado, da força da natureza, por outro, do génio humano, tendo inclusivamente comparado o feito ao da construção das pirâmides. Como acontecera em Satyagraha e Aknathen, Glass usou um texto numa linguagem autóctone. Em concreto, uma série de mitologias dos índios guaraní. A música sugere a sensação de admiração pelas dimensões do espaço e do feito de engenharia. Contudo, e apesar da evidente geografia brasileira da barragem que inspira a composição, Itaipu não segue as ligações às culturas locais que recentemente ensaiara em Powaqaatsi, optando antes pela exploração de uma linguagem que antecipa claralemte o Glass sinfonista de 90 (eventuais ligações encontrando-se todavia com alguns dos episódios mais contemplativos do magistral Koyaanisqatsi).
domingo, junho 13, 2010
O retrato de uma barragem
Através da sua editora, a Orange Mountain Music, Philip Glass editou recentemente uma nova gravação da peça para orquestra e coro Itaipu, uma entre as muitas composições suas nas quais reflecte uma vivência com o Brasil (o título focando a enorme barragem, com o mesmo nome, no rio Paraná). Em 1993 uma primeira gravação de Itaipu tinha surgido, pela Atlanta Symphony Orchestra, dirigida por Robert Swaw, numa edição da Sony Classical. O novo disco apresenta uma gravação mais recente, pelo Los Angeles Master Chorale, dsob direcção de Grant Gershon, num alinhamento que junta ainda três canções construidas sobre poemas de Leonard Cohen, Raymond Lévesque e Octavio Paz, estas em interpretação do Crouch End Festival Chorus.