domingo, junho 06, 2010

Memórias de um viajante

Dois anos depois de Crystal Tears (onde interpretava composições inglesas dos dias do renascimento) o contratenor Andreas Scholl apresenta um novo disco em nome próprio. Songs Of Myself (ed. Harmonia Mundi) apresenta os resultados de uma viagem à redescoberta da música de Oswald Von Wolkenstein. O eventual elo de ligação entre o cantor e o compositor morando na (muito provável) visita de ambos a uma mesma igreja, em Kiedrich, desde há séculos um centro de peregrinação. Naturalmente as visitas estão separadas no tempo por seiscentos anos… Além da voz de Andreas Scholl, este reencontro com a música de Oswald Von Wolkenstein conta ainda com a colaboração do ensemble Shield Of Harmony.

Apesar de conhecermos obras de vários compositores medievais, Oswald Von Wolkenstein (1376-1445) é o único de quem a história guardou um retrato real do seu aspecto físico (ver imagem ao lado). Mais que apenas um compositor, é uma figura importante na história da literatura em língua alemã, pela sua poesia passando temas vários, do sagrado ao profano. Além do seu trabalho artístico, a sua memória recorda ainda o diplomata que viajou por muitas paragens do mundo “conhecido” de então, tendo passado por reigiões tão afastadas como por exemplo Creta, Prússia, Lituânia, Turquia, Georgia, Egipto, Lombardia ou Espanha. Nascido no ano em que morreu Guillaume de Machaut (um dos maiores compositores da Idade Média), Oswald Von Wolkenstein terá assinado certa de 130 canções tendo procurado assegurar, ao contrário do que era hábito na época, que a sua obra continuasse a ser interpretada depois do seu desaparecimento. Crê-se que tenha sido também um cantor, embora as notações musicais da época não nos permitam saber muito sobre as suas eventuais capacidades vocais. “Algo limitadas”, admite Crawford Young, o líder do Shield Of Harmony, num texto que acompanha o booklet desta edição. No mesmo texto o músico caracteriza a música de Oswald Von Wolkenstein como sendo essencialmente trabalho sem recurso à polifonia, os poucos exemplos em que surge na sua obra admitindo resultar de “arranjos emprestados de compositores franceses como Fontaine ou Binchois”. Já sobre a instrumentação que acompanha a voz de Andreas Scholl neste disco explica-a com base em textos que referem não apenas os gostos mas os próprios instrumentos que o compositor saberia tocar.



Imagens de uma entrevista onde Andreas Scholl fala sobre a figura e a música de Oswald Von Wolkenstein.