O magnífico cartaz (americano) do filme chinês 24 City poderá fazer pensar que se trata de uma recuperação nostálgica do imaginário e, mais especificamente, da iconografia da Revolução Cultural maoísta. Nada disso. O cinema de Jia Zhang-ke nasce de um desejo de revisitação do passado que está ancorado, antes de tudo o mais, na necessidade de lidar com os temas e impasses do presente. Dito de outro modo: 24 City é o retrato acutilante, a meio caminho entre os artifícios da ficção e a proximidade do documentário, de uma situação intimamente ligada às convulsões do país durante a preparação dos (e para os) Jogos Olímpicos de 2008. Estão, aqui, em cena as convulsões de uma cidade cuja fábrica de armamento vai ser desmantelada para dar lugar à construção de um gigantesco complexo de apartamentos ("24 City"). Se o cinema pode ser uma máquina reveladora do que está distante do nosso olhar e da nossa cultura, então 24 City surge como um objecto exemplar de tal vocação.