domingo, maio 02, 2010

Visões para um saxofone

O segundo álbum da saxofonista australiana Amy Dickson propõe uma abordagem à música de três figuras marcantes da música do nosso tempo. Em concreto: Philip Glass, John Tavener e Michael Nyman. Na verdade, apenas o terceiro compôs para orquestra com o saxofone como instrumento solista. Trata-se de Where the Bee Dances, peça que cita elementos da música para Os Livros de Propspero e que surgiu de uma encomenda pela Bornemouth Sinfonietta em 1991. Dos dois primeiros apresentam-se arranjos, para saxofone de peças marcantes das obras para orquestra de Glass e Tavener, respectivamente o Concerto Para Violino e o primeiro andamento de The Protecting Veil. Os arranjos são da responsabilidade da própria Amy Dickson, transformando a parte solista do concerto de Glass e a que Tavener havia composto para o violoncelo. Os resultados são impressionantes, seja nas operações de transformação ou na abordagem a Nyman, revelando final feliz para um esforço físico que obrigou a saxofonista a controlar a respiração de forma a acompanhar tanto a pulsação da escrita de Glass como as frases longas de Tavaner. Em disco Amy Dickson é acompanhada pela Royal Philarmonic Orchestra, dirigida por Mikel Toms.

Neste seu segundo álbum, a saxofonista aborda a música de três compositores que, cada um em seu terreno, explorou caminhos a partir das linguagens do minimalismo. Philip Glass (na imagem) é de resto um dos quatro “pilares” do minimalismo norte-americano (ou outros sendo La Monte Young, Terry Riley e Steve Reich), sendo que desde inícios dos anos 80, depois de estabilizada a linguagem minimalista, encetou a exploração de novos sentidos na sua música, entre eles o da música para orquestra, que na verdade teve neste seu primeiro Concerto Para Violino uma peça de importância fulcral. O britânico Michael Nyman era crítico de música quando, em finais dos anos 60, usou pela primeira vez a expressão minimalismo para caracterizar uma nova múisica que então chegava da América. Como compositor incorporou alguns desses princípios na sua linguagem, cruzando-os com uma vivência mais intensa com a tradição clássica europeia. Já o também britânico John Tavener partiu (um pouco como Arvo Pärt) em busca de uma identidade que encontrou na exploração da música religosa, com particular interesse pela tradição ortodoxa.


Imagens de Amy Dickson no primeiro andamento do seu arranjo para o Concerto Para violino de Philip Glass.