domingo, maio 23, 2010

Uma "nova música" na França de 1870

O compositor francês Gabriel Fauré (1845-1924) era um reconhecido pianista e frequentemente usava o piano nas suas composições. Raramente o fez como instrumento solista, optando algumas vezes por usá-lo antes num contexto de música de câmara, como este disco agora recorda.

Juntando o Trio Wanderer ao violetista Antoine Tamesit, Piano Quartets junta num mesmo alinhamento os Quartetos para Piano números um e dois de Fauré. Esta é uma música que nasce num contexto de importante transformação de hábitos e de foco de atenções em jovens compositores na França dos anos 70 do século XIX. Até então o centro das atenções da vida musical parisiense orbitava em torno da ópera e à música instrumental e aos novos compositores não era fácil chegar aos espaços abertos ao público. A música de câmara era, contudo, presença assídua nos salões da grande burguesia. Para promover, noutras esferas, a nova música francesa, Camile Saint Saëns funda em 1871 a Societé Nationale de Musique, cuja primeira meta se revelava precisamente numa “atenção para com o lançamento de obras de novos compositores”, como Fauré descreveria numa entrevista em 1922. É nesse quadro que o compositor, que se torna secretário da sociedade em 1874, apresenta alguns importantes trabalhos de música de câmara, um dos primeiros sendo o Quarteto para Piano nº 1. A obra evita o virtuosismo, não deixando contudo de explorar texturas expressivas que convidam o pianista a uma fluidez e vivacidade, como de resto sublinha o booklet que acompanha este novo disco. A obra foi terminada em 1879, um segundo quarteto com as mesmas forças instrumentais surgindo cinco anos depois. Separados no tempo, partilham algumas características em comum visíveis, por exemplo, na estrutura dos andamentos… Esta magnífica actuação representa assim um convite ao reencontro de um tempo de aposta em novos talentos na história da música francesa dos finais do século XIX.