Olhar e escutar. Música. Cinema. E os espaços em volta.
quinta-feira, maio 13, 2010
Outros ecos dos oitentas
A Roménia dos anos 80 é o cenário para Histórias da Idade de Ouro (no original Amintiri din epoca de aur) uma sarcástica comédia que reduz a uma sequência de momentos de puro absurdo o que são ecos da memória do que era a vida sob a ditadura de Ceausescu. Dividida em pequenos episódios, um pouco como um livro de contos, soma o trabalho de vários realizadores, contando com a presença de Cristian Mungiu (que assina o argumento das várias narrativas) como denominador comum. Do caos desnorteado numa pequena aldeia em vésperas de uma visita oficial de uma alta figura da hierarquia do partido ao drama de fazer cair suor na testa dos dois fotógrafos de um jornal a quem é pedido que se retoquem sistematicamente as imagens do ditador, passando pela aventura de um activista que parte em campanha de alfabetização para uma terra que ficou isolada depois da chuva deitar por terra a estrada que permitia ali chegar de carro, mostram-se histórias de medo, resignação e luta pela sobrevivência. Um tanto diferente, e com dimensão trágica, apresenta-se o episódio no qual dois jovens astutos encontram forma de ganhar dinheiro à conta da ingenuidade dos outros, usando a favor do seu “esquema” uma série de características do sistema.
Tecnicamente competete, com magnífico trabalho de direcção fotográfica, o filme encontra as cores da vida humana num tempo em que o quotidiano se mostrava cinzento. Tal como o fizera 12.08 a Este de Bucareste, de Corneliu Porumboiu, Histórias da Idade de Ouro é uma outra forma de fazer cinema político. Convenhamos que o cortante humor que cruza algumas destas situações vale mais que muitas eventuais exposições comentadas dos males do regime que durante anos fez da Roménia o país que este filme evoca. O filme, que passou em Cannes em 2009, estreia hoje em Portugal.
Imagens do trailer de Histórias da Idade de Ouro. Esta versão não tem legendas.